Opinião
A César o que é de César
Desde que Mário Soares o desviou do Pio XII e do circuito cosmopolita, sempre quis voltar das ilhas de bruma. Durou três maiorias, um ciclo de mudança, salto de afirmação contra o outro. Quase sempre do contra. Voltou para navegar o conflito entre perdas e ganhos.
Se a política vive, também vive, de manha, Carlos César é um bom exemplo. Por ele passa e nele reside uma parte fundamental do aparente sucesso da geringonça. Nele deposita António Costa uma confiança ilimitada e uma esperança sem fim. César está para o príncipe como Maquiavel esteve para Lourenço de Médici, no início do século XVI.
São regulares as inserções do líder da coligação governamental (César é chefe no Parlamento) na esfera executiva. Sempre articulado com o primeiro-ministro, quase sempre assertivo na forma e no conteúdo. Raramente tem falhado o objectivo, que normalmente está no amaciar das palpitações da esquerda radical. No percurso - e enquanto mete a exuberância no bolso - aproveita para malhar na direita. Com um sucesso indesmentível.
E assim, num hábito que alimenta aparentes divisões na geringonça, César pergunta e responde. Num outro tempo, o líder parlamentar fará as mesmas perguntas (em timbre reciclado) quando o plano de negócios do Novo Banco (entretanto entregue à Lone Star) exigir o fecho de balcões e o despedimento de funcionários. E, provavelmente, o recurso a dinheiro público. Voltaremos a ver e a ouvir as exuberâncias de Catarina e Jerónimo e a dúvida metódica de César.
Estes tempos estranhos trazem-nos uma solução "de mercado" para a Caixa, a saída do Novo Banco da influência pública (mas com exposição pública) e um possível caminho novo para o Montepio, com influência de Santana Lopes. César voltará a perguntar, amaciando a esquerda radical com a sua voz, ao mesmo tempo solidária e suavemente indignada.
O príncipe pode estar descansado.
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