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07 de Março de 2007 às 13:59

Quem tramou Belmiro ou a maldição do Norte

Como é que a Sonae começou a OPA em ombros, sob aplauso geral – apesar de as possibilidades de sucesso serem desde logo relativamente baixas, devido à blindagem, à golden share e ao preço – e acabou praticamente sem aliados?

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Os aplausos à OPA visaram em primeiro lugar a ousadia da operação e o sentimento generalizado de que a PT prestava um mau serviço ao País e aos clientes, tirando partido da sua posição dominante, pelo que o ataque ao porta-aviões foi visto com satisfação por todos aqueles que alguma vez se sentiram humilhados. José Sócrates, previamente informado por Belmiro de Azevedo, descobriu na operação da Sonae uma bandeira da confiança inspirada pelo seu Governo na classe empresarial e uma oportunidade para introduzir concorrência nas telecomunicaçõees.

Alguns meses mais tarde, a tendência tinha virado. Mudou a gestão da PT, e com a mudança desfizeram-se alguns tiques de arrogância, e mudou o mercado, porque 12 meses é mesmo muito tempo. E também mudou o acolhimento do Governo à operação, que concluiu, entretanto, que conseguia atingir os mesmos objectivos de promover a concorrência com as medidas anunciadas pela administração da PT, mesmo que isso não esteja demonstrado.

Belmiro e Paulo de Azevedo começaram a perder a guerra há demasiados meses. Começaram a perdê-la com o trabalho competente da PT, que foi mais clara na proposta de remuneração aos accionistas, e que foi muito mais eficaz em termos de comunicação – os accionistas da PT sabem quantos documentos explicativos receberam ao longo dos últimos meses com as propostas da administração.

A Sonae também perdeu a guerra em termos de lobbying. Foi menos eficaz do que a PT e o BES, que, apesar de combalido por uma série de casos pouco recomendáveis, conserva intacta a sua capacidade de influência e é, reconhecidamente, muito mais eficaz do que a Sonae neste domínio.

Com este desfecho, perdeu-se mais uma oportunidade para os grupos do Norte. Que, salvo raras excepções – a Unicer é uma delas – perderam o comboio das privatizações, porque o modelo de dispersão em bolsa, desenhado por Cadilhe e Cavaco Silva, era particularmente desfavorável a grupos de média dimensão e com pouco músculo financeiro. E quando o tentaram fazer no caso da banca acabaram por perder pelas opções políticas do Governo: que no caso do BPA favoreceu o BCP contra a Sonae e um núcleo duro muito pouco duro, e no concurso do BFE optou pelo BPI, deixando de lado Américo Amorim. De um longo rol de falhanços nortenhos, onde se pode incluir o caso Petrocer, salvou-se apenas Américo Amorim, que soube aproveitar uma estreita janela de oportunidade para garantir 33% da Galp, proporcionada pelo chumbo de Bruxelas ao modelo de reeestruturação do sector energético de Carlos Tavares e pelas novas ideias de Manuel Pinho para o sector, e pela necessidade de resolver o caso Eni.

Belmiro de Azevedo, uma das vozes mais entusiastas do estilo de liderança de José Sócrates, deve estar por esta altura em fase de reflexão. Se fosse dado a estados de alma, estaria a pensar que lhe foram criadas expectativas que não foram cumpridas. Mas como é um homem de acção só pode estar a preparar o próximo passo para o plano C ou N. Para surpreender o mercado já na próxima sessão de apresentação de resultados. E para negócios futuros com o Governo, talvez seja melhor passar a almoçar mais vezes no Gambrinus e em outros circuitos da capital.

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