Opinião
30 de Abril de 2012 às 10:02
Quem paga as contas
Explicar por que motivo os mercados sobem ou descem num determinado momento não é tarefa fácil.
Explicar por que motivo os mercados sobem ou descem num determinado momento não é tarefa fácil. As oscilações de curto prazo podem ter razões claras para as fundamentarem, mas são em maior número as ocasiões em que os movimentos inesperados são pouco claros e difíceis de explicar.
Nestas situações, é necessária imaginação para avançar alguns palpites, correr riscos e fazer cedências em relação à consistência das análises. A outra solução é a que Harry Markowitz, prémio Nobel da Economia, prefere, com a vantagem de ser infalível. Quando, uma vez, lhe perguntaram qual era, do seu ponto de vista, a razão por que em determinada sessão a bolsa tinha descido, o economista não hesitou: "isso sucedeu porque a procura se mostrou inferior à oferta".
A descida das taxas de juro dos títulos de dívida pública portuguesa no mercado secundário tem uma explicação muito simples, caso se adopte a estratégia defensiva de Harry Markowitz em relação às escorregadias análises de curto prazo. Nas semanas mais recentes, os investidores têm apostado em acrescentar estes activos às suas carteiras e este aumento da procura tem feito subir o preço das obrigações emitidas pelo Estado português.
A mensagem do mercado parece ser a de que Portugal está a reconquistar uma parte da credibilidade perdida, situação que leva a que haja agora mais investidores a perderem o receio de se tornarem credores do país. Aparentemente, um número maior de investidores acredita que Portugal não precisará de fazer uma reestruturação da dívida, como sucedeu com a Grécia.
Sabem que as avaliações da troika à execução do programa de ajustamento se têm revelado positivas quando o tema é o esforço de consolidação das finanças públicas. E também não ignoram que Portugal continuará a ser apoiado no caso de não conseguir financiar-se de forma normal a partir de 2013, o que baixa o risco de haver más surpresas.
Este sopro de confiança que tem vindo a produzir a redução nas taxas de juro da dívida portuguesa, ainda longe de terem regressado a nível sustentáveis, parece ter como alicerce essencial o facto de se saber que há vontade política e promessas públicas de que, no momento dos reembolsos, não faltará o dinheiro, desde que Portugal cumpra as contrapartidas com que se comprometeu perante a troika. A verdade é que, se este detalhe é decisivo, porque os credores têm a expectativa de que alguém continuará a honrar os compromissos, não é suficiente para disfarçar a questão de fundo.
O regresso aos mercados só acontecerá se as chamadas "reformas estruturais" forem realizadas e começarem a ter impactos no crescimento. A confiança plena apenas será recuperada quando Portugal mostrar que é capaz de pagar as contas pelos seus próprios meios, o que é bem diferente de ter alguém que lhe pague as contas.
joaosilva@negocios.pt
Nestas situações, é necessária imaginação para avançar alguns palpites, correr riscos e fazer cedências em relação à consistência das análises. A outra solução é a que Harry Markowitz, prémio Nobel da Economia, prefere, com a vantagem de ser infalível. Quando, uma vez, lhe perguntaram qual era, do seu ponto de vista, a razão por que em determinada sessão a bolsa tinha descido, o economista não hesitou: "isso sucedeu porque a procura se mostrou inferior à oferta".
A mensagem do mercado parece ser a de que Portugal está a reconquistar uma parte da credibilidade perdida, situação que leva a que haja agora mais investidores a perderem o receio de se tornarem credores do país. Aparentemente, um número maior de investidores acredita que Portugal não precisará de fazer uma reestruturação da dívida, como sucedeu com a Grécia.
Sabem que as avaliações da troika à execução do programa de ajustamento se têm revelado positivas quando o tema é o esforço de consolidação das finanças públicas. E também não ignoram que Portugal continuará a ser apoiado no caso de não conseguir financiar-se de forma normal a partir de 2013, o que baixa o risco de haver más surpresas.
Este sopro de confiança que tem vindo a produzir a redução nas taxas de juro da dívida portuguesa, ainda longe de terem regressado a nível sustentáveis, parece ter como alicerce essencial o facto de se saber que há vontade política e promessas públicas de que, no momento dos reembolsos, não faltará o dinheiro, desde que Portugal cumpra as contrapartidas com que se comprometeu perante a troika. A verdade é que, se este detalhe é decisivo, porque os credores têm a expectativa de que alguém continuará a honrar os compromissos, não é suficiente para disfarçar a questão de fundo.
O regresso aos mercados só acontecerá se as chamadas "reformas estruturais" forem realizadas e começarem a ter impactos no crescimento. A confiança plena apenas será recuperada quando Portugal mostrar que é capaz de pagar as contas pelos seus próprios meios, o que é bem diferente de ter alguém que lhe pague as contas.
joaosilva@negocios.pt
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