Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
07 de Março de 2008 às 13:59

Professores assim não

Toda a gente guarda uma recordação precisa do seu professor da escola primária. Melhor ou pior, ficou como marca indelével para a vida. Mau grado todas as polémicas recentes, os professores continuam entre as profissões com maior reconhecimento da socieda

  • ...

Reconhecido isto, não quer dizer que os professores têm a razão do seu lado na guerra com o Ministério da Educação. Pode ser injusto simplificar, mas a realidade não favorece os seus argumentos. É o desempenho do país ao nível da educação, em valores absolutos e na comparação internacional, que fornece as maiores razões para as actuais políticas do Ministério da Educação.

O nível de insucesso escolar, o elevado grau de desistência e os fracos índices de escolaridade dos portugueses são uma das faces da moeda. A outra é  o mau desempenho dos alunos portugueses em testes internacionais que avaliam as suas competências em matemática e em literacia. Se quanto aos primeiros se pode argumentar que a sociedade pode ser, em parte, responsável pelo insucesso, nos segundos é evidente o falhanço do sistema de ensino. E são os professores universitários os primeiros a queixar-se da má formação com que os alunos chegam às suas mãos, apesar de agora alguns aparecerem agora “irmanados” na contestação dos pares do básico e do secundário.

O mau estado geral da educação é uma evidência. É o resultado de 30 anos de políticas ao sabor das muitas mudanças de governos e  ministros e da incapacidade dos responsáveis do Ministério da Educação lidarem com duas forças poderosas: os sindicatos dos professores, que se tornaram nas únicas formas de representação da classe, e as novas modas pedagógicas.

A escola de hoje não pode ser igual à escola de antigamente. O ensino dos conteúdos e a autoridade na sala de aula não podem ser exercidos da mesma forma. Mas a sucessiva experimentação de modelos, muitas vezes de forma acrítica, resultou numa cadeia de disparates com efeitos perniciosos em sucessivas gerações de jovens e também nos próprios professores.

Claro que também se pede à escola aquilo que ela não pode dar. Os melhores desempenhos de alguns países do Extremo Oriente registam nos indicadores em que nós ficamos tão mal, tal não resulta apenas do sistema escolar mas da própria valorização social da educação e da disciplina para atingir objectivos. Além de que, com a dissolução da família tradicional, à escola tem sido pedidas cada vez mais que complete funções que antes pertenciam aos pais.

Mas tudo isto são justificações que não podem esconder o essencial. A escola portuguesa não funciona e os resultados que tem produzido não podem orgulhar ninguém. Os professores deviam ser os primeiros a reconhecê-lo e a querer contribuir para mudar.

Maria de Lurdes Rodrigues não tem a razão toda. Mas tem razão no essencial: na necessidade de avaliação, para acabar com o inaceitável modelo de promoção universal por antiguidade, na mudança do modelo de gestão, com a centralização de poder no director. A época da democracia nas escolas já deu o que tinha a dar. Como já teve razão antes no alargamento do horário das escolas e nas aulas de substituição.

O facto de se perder em questões de forma, com o recurso a um centralismo crescente e mudanças que inundam as escolas de burocracia, é um mal menor.

Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio