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17 de Janeiro de 2005 às 13:59

O afã reformador

Santana diz que quebrou o silêncio. Não que tenha andado particularmente silencioso. Mas fez bem em despir o casaco de homem de Estado e em vestir o de combatente político. Assenta-lhe melhor. E com o outro não resiste à tentação do disparate – Morais Sar

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Santana apanhou bem as contradições de Sócrates. As contradições em termos de política fiscal, com o anúncio da manutenção do regime de benefícios fiscais inscrito no Orçamento de 2005, antes classificado como de «maior ataque à classe média». E os deslizes nos raros compromissos assumidos pelo candidato socialista a primeiro ministro, como o de uma taxa de crescimento médio de 3% nos próximos quatro anos e a criação de 150 mil empregos, objectivos ambiciosos, senão irrealistas.

Uma ironia vinda de quem vem mas a verdade é que Sócrates tem acumulado deslizes e contradições. Poderão não ser graves , mas a verdadeira hora das promessas ainda não chegou e se com medidas avulsas já é assim...

Sócrates continua a proteger-se. Os seus discursos e as promessas que encerram são geridos ao milímetro. O discurso realista fica sempre para os outros, para Manuel Pinho, o porta-voz para as questões económicas, ou para António Vitorino, que reconheceu ser preciso «pedir sacrifícios, rigor e disciplina». Veremos de que forma o programa que está a coordenar reflecte essa visão.

O debate pré-eleitoral continua morno. As Novas Fronteiras, apesar da qualidade de alguns dos intervenientes convidados, não chegam para aquecer. E na ausência dos programas dos partidos, esperados esta semana, as anedotas preenchem o espaço do debate.

O PSD lançou para cima da mesa o tema das sondagens. As insinuações de promiscuidade entre empresas de sondagens, partidos e meios de comunicação social (é a tese da cabala de volta, só lhe falta o nome) revela que, ao contrário do discurso oficial, os sociais-democratas estão incomodados com os estudos sucessivos que dão o PS no limiar da maioria absoluta. Ora, a convicção generalizada da vitória socialista tanto pode jogar contra o PSD como contra o PS, desmobilizando os respectivos eleitores, embora por motivos diferentes, e favorecendo a abstenção.

O episódio das sondagens suscitado por Miguel Relvas é um sinal de fraqueza para quem gosta de recordar as vitórias históricas nas câmaras de Lisboa e do Porto em 2001, ao arrepio de todas as sondagens.

Quem não se lembra de como Durão Barroso entrou na campanha, em 2002, à beira da maioria absoluta e acabou a vencer por pouco mais de dois pontos? Em 2002, o PSD atribuiu a erosão da margem de vitória ao descontentamento do funcionalismo público, muito concentrado em Lisboa, face às promessas de reforma da administração pública. Santana mostra que aprendeu a lição. Quando inquirido ontem sobre o mesmo tema, foi tíbio na resposta e rejeitou liminarmente despedimentos. Assim sucumbe o afã reformador à boca das urnas.

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