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13 de Outubro de 2005 às 13:59

Não é só a comunicação

Recomeçou a época de greves. Ontem e hoje são os enfermeiros, dia 20 os funcionários públicos, dia 26 os juízes e funcionários judiciais. No rescaldo da derrota das autárquicas e com o crescendo da contestação social, o PS dá os primeiros sinais de nervos

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Os relatos do encontro entre José Sócrates e as federações distritais, anteontem à noite, revelam o mal-estar do partido com a política do Governo. Além de críticas à estratégia de apresentar um pacote de medidas de contenção, abrindo frentes de conflito com diversos grupos em simultâneo, volta à baila a falta de comunicação.

É recorrente. Sempre que as políticas são difíceis e provocam contestação, não há melhor argumento do que a falta de comunicação. Foi assim com Barroso e Manuela Ferreira Leite, tinha que voltar a ser assim com Sócrates.

Mas não há estratégia de comunicação que consiga disfarçar o indisfarçável, que a economia está em recessão, que as perspectivas de crescimento para os próximos anos são incipientes e que o desemprego vai continuar a crescer - já agora, o que o Governo poderia ajudar a explicar é porque, apesar da crise, as empresas continuam a queixar-se da dificuldade em recrutar mão de obra.

O aparelho socialista aponta o dedo à política de austeridade para explicar os maus resultados eleitorais do PS. Ninguém os ouve falar, por sinal, de outro tipo de decisões com tanto ou mais impacto no crescimento das taxas de desaprovação do Governo, como as nomeações partidárias para a gestão de empresas públicas. O aparelho que quer mais e melhor comunicação e já agora menos contenção é o mesmo que quer colocar os «seus» em todos os lugares que estão ocupados pelos «outros».

Com a reprovação geral às mudanças na administração da Caixa, o Governo passou a ter mais cuidado. Antes da indicação de Oliveira Martins para o Tribunal de Contas fez subir Carlos Tavares para a CMVM. Para substituir José Mata no INE escolheu um perfil técnico como Alda Carvalho, e até a decisão de segurar Oliveira Marques como presidente executivo da Metro do Porto (lugar onde é bom lembrar que entrou pela mão de Jorge Coelho) é vista como inversão de marcha face aos rumores de que o lugar estaria guardado para um de dois ex-presidentes de Câmara do PS, Nuno Cardoso ou Narciso Miranda.

Talvez seja a prova de que o Governo está a aprender. Ou talvez não. Basta ver a inédita tentativa de despedimento com justa causa do presidente da Refer, quando é público que vários nomes da área do PS (como Manuel Moura e Crisóstomo Teixeira) foram sondados para o seu lugar muito antes da eclosão do conflito.

Para não sermos maniqueístas, há um aspecto em que as preocupações do aparelho fazem sentido. Em democracia, as decisões têm que ser compreendidas pelos eleitores. Sabe explicar e saber ouvir são qualidades fundamentais em política. Ora Sócrates ainda não provou ter percebido que capacidade de decisão não é sinónimo de arrogância. Não é pecado mortal mas, a prazo, pode ser mortífero.

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