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08 de Abril de 2004 às 15:03

Mal-estar europeu

Com meio país a caminho ou em pleno gozo da ponte pascal, quase passa despercebida a proximidade das eleições europeias. Faltam apenas dois meses para, a 13 de Junho, data ontem oficialmente marcada, os portugueses dizerem de sua justiça e confirmarem que

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Com meio país a caminho ou em pleno gozo da ponte pascal, quase passa despercebida a proximidade das eleições europeias.

Faltam apenas dois meses para, a 13 de Junho, data ontem oficialmente marcada, os portugueses dizerem de sua justiça e confirmarem que cartão mostram ao Governo, se amarelo ou vermelho, com têm reclamado as oposições, ou se preferem manter-se à margem, como têm feito nos anteriores actos eleitorais europeus.

Se as eleições fossem hoje, a acreditar nas sondagens, a coligação PSD / PP dificilmente elevaria o número de eleitos em Estrasburgo dos actuais 11, ainda por cima com o efeito combinado da redução do número de deputados.

Mas nem as eleições são hoje nem as sondagens representam resultados antecipados, como ainda recentemente se pôde verificar. Se assim não fosse, qualquer dia ainda alguém vinha propor que se substituísse a ida às urnas por sondagens, que sempre ficavam mais baratas.

E eis-nos a fazer cálculos sobre o efeito da vaga de mudança nas europeias. Vaga que tem mais a ver com um sentimento geral de descontentamento das populações com a política de quem as governa do que com qualquer viragem à esquerda que alguns se apressaram a identificar.

Convém não esquecer que o primeiro sinal foi dado na Grécia e a mudança favoreceu a direita. O facto de os eleitores espanhóis e franceses terem votado à esquerda não esconde que uma das próximas mudanças anunciadas deverá penalizar a social-democracia alemã.

Porque estão os europeus tão insatisfeitos com os seus governos? Tirando o caso particular de Espanha, a ideia geral é que estão cansados da crise económica, da diminuição dos seus rendimentos e das políticas de reforma do Estado social.

Em teoria, quase todos concedem que o modelo de protecção tal como está a funcionar na Europa desenvolvida não é sustentável face às alterações demográficas que já estão acontecer e se vão intensificar.

Mas uma coisa é a teoria e outra bem diferente o impacto dela no bolso de cada um. E como as gerações que serão mais penalizadas no futuro ainda não votam, são eleitorados cada vez mais velhos que votam contra políticas que ameaçam os seus direitos adquiridos.

Se essas políticas são protagonizadas por partidos de esquerda ou de direita é o que menos lhes interessa. Durão Barroso prometeu, em dia de aniversário, mais investimento público.

Uma promessa interessante, à luz das previsões da Comissão Europeia de que o défice português ultrapassará este ano o limite de 3% do PIB, confirmando portanto que apenas com recurso a mais medidas extraordinárias o país poderá manter-se dentro dos limites do PEC.

O PEC já vale o que vale mas será sempre solução de facilidade atribuir à intenção de rigor nas contas públicas a responsabilidade pelo mau momento que Portugal atravessa.

Não houve rigor a mais, houve foi outro tipo de políticas a menos. E falta de convicção na defesa delas. É sempre bom recordar que houve governos a seguirem políticas de austeridade que conseguiram ser reeleitos.

O problema é que, para o bem e para o mal, nem todos podem ter o carisma e a determinação de uma senhora Thatcher.

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