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22 de Maio de 2006 às 13:59

Espionagem

Desconfie da sua secretária. É que a sedução de secretárias é um dos estratagemas utilizados pela espionagem estrangeira. Desconfie se estrangeiros lhe propuserem «joint ventures e projectos de investigação comuns». Dê o alerta. Comunique imediatamente ao

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Não acredita? Então vá a www.pse.com.pt. Não é um site qualquer. É um site do SIS. E fique a saber que a sua empresa está exposta a um elevado risco. Porquê? Então não sabe que «No actual contexto de agressiva concorrência económica mundial, as organizações portuguesas, mesmo as de pequena dimensão, são visadas por entidades estrangeiras?». Então não sabe que «A qualidade dos nossos recursos humanos e a capacidade de inovação das nossas organizações potenciam a criação de valor e atraem interesses estrangeiros»?

Anda distraído? Informe-se e aprenda a reconhecer os sinais de ameaça. Caso encontre algum, despache-se a dar o alerta. Fique já a saber que, por exemplo, a «Aquisição de empresas ou de parte das empresas, com o propósito de obter o seu capital de conhecimento» e os «Contactos por parte de indivíduos conhecidos no decurso de conferências, colóquios, seminários e congressos científicos, requerendo reuniões» são prováveis actos de espionagem económica?

Sente-se transportado para um romance do John Le Carré? Acha que a paranóia tomou conta do SIS? Você não quer acreditar que a partir de agora está inibido de vender a sua empresa a outra doutro país porque está a vender segredos portugueses ao estrangeiro?

Você não quer acreditar que anda a pagar impostos para isto? Você acha que tudo isto é ficção?

Então desça à realidade. Depois de ler a reportagem sobre «Segurança Económica» na página 40 desta edição, leia na página 16 a conversa com o presidente da Comissão Nacional de Protecção de Dados Pessoais.

Sabe quantas vezes alguém pediu para aceder à sua ficha clínica? Sabe quantas câmaras de vídeo estão instaladas em sítios improváveis? Recorda-se do caso do sistema vídeo de controlo dos incêndios florestais da Arrábida que filmava tudo num raio de 12 km, praias, povoações inteiras, pessoas nas suas piscinas?

Está consciente que há uma discoteca que coloca «chips» nas pessoas para as localizar? Sabe quantas empresas utilizam o sistema para localizar os seus funcionários?

E sabe que Portugal e outros países da União Europeia pensam sobre estes assuntos coisas muitos diferentes do que pensam os EUA e o Reino Unido?

Já imaginou o que seriam as cidades portuguesas com câmaras vídeo instaladas de 600 em 600 metros? Já pensou que quando o seu automóvel tiver, por força de lei, um «chip» emissor, o Estado saberá sempre onde você está?

Então? O que pensa sobre tudo isto? Acha que as ameaças estrangeiras são um verdadeiro perigo? Acha que a privacidade do cidadão está irremediavelmente posta em causa? Ou acha que nem oito nem oitenta, tudo é uma questão de equilíbrio e bom-senso?

Quando responder a estas questões, lembre-se do velho argumento que nos ensina que jamais saberemos o suficiente, que a espionagem existe desde a Idade da Pedra e que todas as coisas podem ser utilizadas tanto para o bem como para o mal.

E reflicta sobre os avisos do SIS. Porque se o Estado português gasta dinheiro a alarmar as pessoas com matérias absurdas quer dizer que o absurdo mora até dentro do Estado democrático. Quanto mais fora dele!

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