Opinião
A televisão é toda sua
Antes só havia a televisão analógica. Mas agora tudo é mais moderno: já há IPTV, CATV, BWA e STH. No futuro haverá TDT, os Mux A e os Mux B a F, em frequência DVBT. Seja em qual for, todos quereremos ter HDTV. Qual quer? Bem-me-quer ou mal-me-quer? Não de
Não desista já de ler este editorial. Este jogo é um mero conjunto de siglas técnicas para significados muito simples: num futuro bem próximo poderá receber televisão em casa pela rede analógica (a "antena" tradicional), por cabo, por cobre (via Internet), por satélite e, depois do concurso hoje lançado, com digital, que oferece mais qualidade e diversidade de serviços.
O Governo publica hoje finalmente os concursos para a televisão digital terrestre, esperando concluí-lo este ano. Entretanto, será lançado o concurso para o quinto canal aberto. Este aumento da oferta só pode ter um efeito: beneficiar o consumidor
A TDT e o quinto canal são ‘dossiers’ paralelos mas coexistentes. A Oposição já criticou o Governo pelo momento de lançamento dos concursos, dizendo que o PS quer domesticar até às eleições os grupos de comunicação social, que têm interesses nestes processos. Se o PS pensar dos "media" o que António Costa pensa do "Público" (que é correia de transmissão do seu patrão), bem podemos dizer que estão bons uns para os outros.
Todos os grupos de "media", incluindo o que detém o Jornal de Negócios, têm interesses activos ou passivos nestes dois concursos: uns precisam do quinto canal para completar o seu "portfolio" de negócios e expandir receitas; outros precisavam que o quinto canal não existisse para preservar o seu próprio negócio e coutada de receitas. Evidentemente, Media Capital (TVI) e Impresa (SIC) são as primeiras a defender que não há mercado publicitário para um quinto operador (propondo que a RTP deixe de ter um modelo de receitas publicitárias). É típico: sempre que aparece um novo operador, os operadores existentes invocam a inelasticidade do mercado.
Se as empresas de "media" estão envolvidas no quinto canal, as empresas de telecomunicações entram no dossier da TDT. A ZON quer atirar-se aos canais gratuitos. A PT está carente de televisão desde que deixou a filha PTM sair de casa e diz que não há outra empresa que a possa bater neste concurso. A Sonaecom pode não concordar. A espanhola Retevisión pode entrar no jogo. Mas a verdade é que os negócios lançados pós-televisão por cabo (a AR Telecom de Pereira Coutinho, a SmarTV da Sonaecom, o Meo da PT) fracassaram nas hipóteses de massificação. Porquê? Porque são incapazes de ultrapassar os constrangimentos técnicos (baixa fiabilidade do serviço) e o peso "incumbente" da TV Cabo: quase 80% das casas portugueses estão "cabladas" e, nessas, a ZON Multimédia é esmagadora.
É por isso que vale a pena não deixar impressionar-se com siglas. A escolha da sua nova televisão não está na tecnologia, mas nos serviços prestados (e o preço que pagar por eles), numa lógica complementar de comunicações. No dia em que cada cliente fizer a sua própria TV, "gravando" o que quer e quando quer (o que aliás colocará em xeque o modelo de publicidade actual - ninguém vai gravar intervalos comerciais), o que diferenciará a oferta serão os conteúdos, a qualidade na sua recepção e o custo inerente.
O Diário da República de hoje torna mais próximo esse dia de libertação dos clientes. Esta caixa já mudou o mundo. Agora, é o mundo que muda a caixa.