Opinião
A «holding» dos patrões
As entidades patronais têm sido mais parte do problema do que da solução. Sem desprezar o que têm e fazem de bom, nelas identificam-se muitos dos problemas e dos tiques que vão espalhando nós cegos pelo país. Em cada uma à sua maneira, lá estão o «amiguis
As entidades patronais têm sido mais parte do problema do que da solução.
Sem desprezar o que têm e fazem de bom, nelas identificam-se muitos dos problemas e dos tiques que vão espalhando nós cegos pelo país.
Em cada uma à sua maneira, lá estão o «amiguismo», as «capelinhas», a incapacidade de renovar estruturas, a subsidio-dependência, o regionalismo, a defesa do proteccionismo e a incapacidade de definirem uma agenda comum.
Daqui resultou a multiplicação de organizações. Sectoriais e regionais, com muita e pouca representatividade, com ou sem estatuto de parceiro social, o que não falta por aí são vozes a falar em nome de empresários e patrões.
É fácil concluir que o país tem ganho muito pouco com esta ruidosa diversidade que é, muitas vezes, motivada por protagonismos pessoais.
A Confederação Empresarial Portuguesa (CEP), que hoje arranca formalmente, tem por objectivo colocar alguma ordem nisto: lançar uma estrutura com representatividade nacional e transversal aos sectores económicos, que seja o máximo denominador comum dos empresários portugueses.
Esta não é a primeira tentativa de criar uma «holding» do empresariado. Há um par de anos, CIP, AEP e AIP fracassaram no lançamento do Conselho Empresarial de Portugal, provando que não são só os governos que falham nas reformas da administração.
A grande dúvida é se as boas intenções dos progenitores Ludgero Marques e Rocha de Matos vão, desta vez, ser atingidas.
Ou se, pelo contrário, esta acabará por ser mais uma entre a dúzia de siglas patronais. A CEP só será bem sucedida se houver abertura e convergência de entidades instaladas. E não parece que o clima seja esse.
«Desnecessária e indesejável», «extemporânea», «estão todos a disparar em todas as direcções», são algumas das reacções das confederações da Indústria, Agricultura, Turismo e Comércio e Serviços, que sentem ameaçado o seu estatuto de parceiro social.
Portanto, a entidade que nasce para unir todos dentro de si, começa por unir todos contra si. Nada de novo do lado dos patrões, que continuam a preferir reinar no seu quintal, bloqueando qualquer tentativa de unir esforços para ver um pouco mais longe.
Não é fácil, por isso, a tarefa de Ludgero Marques e Rocha de Matos. Eles, que também são responsáveis pelo «status quo», têm agora o ónus da prova da bondade da CEP.
São eles que têm que mostrar aos empresários e à sociedade que não estamos perante mais um feudo. E que as intenções de renovação de caras, de espírito e de programa são reais e não apenas um «slogan» de bolso que fica sempre bem.
A seu crédito, os criadores da CEP têm já o facto de terem dado o primeiro passo. Que divide, é certo. Mas que é libertador de unanimismos que nunca chegaram e tudo paralisaram.
O que poucos esperariam é que fosse a «velha guarda» dos patrões a ensaiar a mudança.
Aguarda-se agora a concretização das «ameaças» da geração do Compromisso Portugal, obrigatória para que o movimento possa ser consequente.