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A (falta de) moral

O príncipe Carlos e e Camilla Parker-Bowles foram vítimas da fúria dos estudantes em Londres.

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Um ex-ministro grego, reconhecido nas ruas, foi espancado e Atenas vive em ambiente de guerrilha. Roma experimentou o fogo e a violência.

As cidades europeias estão assim. Em Portugal a revolta mantém-se controlada. Mas assiste-se ao impensável. Vários responsáveis da Igreja Católica têm apelado a que não se fique no sofá à assistir às injustiças.

O que andam a fazer as elites bancárias, os responsáveis do sector que carrega e devia pagar a desgraça em que lançou sobre a Europa e a América?

Em Londres, os banqueiros ameaçaram sair da City quando souberam que a União Europeia pretende limitar os prémios de desempenho a 20% do salário. O argumento? O do costume. Que essa medida vai delapidar os talentos que trabalham no sector financeiro.

Na Irlanda, o Allied Irish Bank, que tem a sua vida garantida pelo dinheiro e a austeridade do povo irlandês, só desistiu de pagar 40 milhões de euros em prémios depois do ministro das Finanças ter ameaçado que acabaria com a ajuda que lhes está a fornecer.

E estes são apenas dois exemplos recentes. Os mais antigos chocavam pela indiferença dos gestores, banqueiros e accionistas em relação à crise que afectava as suas empresas, como se elas não fossem suas. Estávamos perante um problema aparentemente apenas económico, de ausência de funcionamento dos mecanismos de mercado. Os casos actuais já chocam pela imoralidade. Sim, é preciso começar a chamar os nomes certos à descarada exploração que os accionistas, banqueiros e gestores do sistema financeiro estão a fazer dos efeitos brutais que a falência de um banco tem sobre a vida das pessoas.

Na Hora H, uma iniciativa do Negócios onde esteve António Horta Osório, três quartos dos gestores, empresários e convidados que estavam na sala afirmaram que a sociedade tem razão em estar zangada com os seus bancos. O que fazer com essa razão?

A primeira grande obrigação dos banqueiros é fazerem o "mea culpa" e daí retirarem as devidas consequências, não apenas racionais mas também morais. Morais? Ninguém se pode esconder por trás de argumento de racionalidade económica para justificar actos e omissões que são manifestamente imorais. Há uma imensidão de exemplos que têm toda a racionalidade económica mas que não são cometidos por serem imorais.

A situação financeira actual, sejamos claros, deve-se única e exclusivamente ao comportamento abusivo do sector bancário nos Estados Unidos e nos países de influência anglo-saxónica, como a Irlanda e o Reino Unido. A banca portuguesa portou-se bem? Não se envolveu nessas aventuras? Claro que não. Mas a banca portuguesa tem também a sua quota-parte de responsabilidade, ajustada à dimensão e desenvolvimento do país, quando se envolveu a si e a algumas famílias num endividamento que corria o sério risco de ser excessivo.

O sistema financeiro, depois de ter cavado o buraco económico em que estão as economias do Ocidente, parece querer agora alimentar a revolta dos cidadãos e ameaçar as democracias e o capitalismo.

A racionalidade económica não é um fim em si, é um meio para construir sociedades mais prósperas e justas. A democracia e a liberdade de mercado não se podem deixar chantagear por accionistas e banqueiros imorais. Os banqueiros andam a brincar com o fogo.


helenagarrido@negocios.pt
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