Opinião
Sem pio
Afinal quem foi o pai da ideia da entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) na Caixa Económica Montepio? Na quarta-feira, o ministro do Trabalho e Segurança Social rejeitou a paternidade da sugestão. “O Governo nunca empurrou a Santa Casa para coisa nenhuma”, declarou Vieira da Silva no Parlamento.
"Tem havido do lado do Governo uma atitude de simpatia em relação a essa possibilidade, como tem havido, aliás, do lado do regulador", afirmou, por sua vez, o actual provedor da SCML, Edmundo Martinho, numa entrevista concedida à TSF e ao DN no final de 2017. Na ocasião, explicou também o racional da operação: "Entendemos que a entrada estratégica no capital de uma entidade bancária, como é o caso da Caixa Económica Montepio Geral, pode servir estes fins de garantia de sustentabilidade da Santa Casa."
António Costa aprofundou as dúvidas ao afirmar, no Parlamento, a 9 de Janeiro, a propósito do Montepio e da SCML: "Não sei de quem foi a ideia, mas tenho pena de não ter sido minha porque a ideia é uma ideia boa."
O diabo está nas entrelinhas das palavras e nos aparentemente incompreensíveis buracos negros, materializados, por exemplo, no facto de a Associação Mutualista Montepio Geral não ter disponibilizado parte da informação pedida pelo Haitong Bank para uma análise aprofundada à Caixa Económica Montepio. A notícia foi avançada ontem pelo Público, acrescentando que a instituição liderada por Tomás Correia a justificou por considerar que a compra de uma posição minoritária, até 10%, não exige uma análise prévia aos riscos do negócio. Um argumento assustador e incompreensível porque ninguém de bom senso investe 200 milhões de euros para ficar nas mãos com uma espécie de kinder surpresa, ou seja, sem saber o estado (neste caso financeiro) do que vai efectivamente comprar.