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O que fazer com este poder 

Existe uma hierarquia de valores na qual se devem tomar as decisões relativamente à IA. Isto é, valores como a liberdade e a democracia são prevalecentes sobre todos os outros.

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A inteligência artificial (IA) constitui-se como uma arma de poder, tanto de natureza política como económica. As ações de desinformação para manipular eleições e os ganhos extraordinários das tecnológicas em bolsa provam a sua crescente relevância em todos os domínios da sociedade. A IA deixou de ser há muito um território de ficção científica e a forma como se tem vindo a insinuar no quotidiano dos cidadãos abre a janela para o admirável mundo novo que Aldous Huxley romantizou. Mas como também avisou o escritor inglês "a democracia permite que criaturas abomináveis conquistem o poder".

 

A realidade é que ainda nos encontramos nesta encruzilhada de pasmo, alimentada pelos rápidos desenvolvimentos da IA generativa. E é também aqui, precisamente nesta encruzilhada, que se faz o debate entre quem defende a regulação da IA e os que são favoráveis a uma espécie de autorregulação do mercado, argumentando que as leis irão travar a capacidade de inovação e o investimento.

 

Por debaixo desta patine esconde-se o âmago da questão, o poder que a IA generativa proporciona aos seus detentores e a batalha para o obter em doses  generosas. A IA é um fabuloso negócio, com margens elevadas, de que as tecnológicas não querem abrir mão, e por isso  olham para a regulação como um empecilho. Os governos, por seu lado, pretendem garantir um controlo eficaz da IA dada a sua capacidade para disseminar (des)informação e  influenciar a opinião pública. E, claro, temos os cidadãos, ora capturados pelo encantamento que a IA gera, ora temerosos pela circunstância da sua vida profissional ser afetada negativamente ou por intelectualmente sentirem que a mesma pode colocar em causa os alicerces das sociedades.

 

Como em tudo na vida, também não há uma verdade absoluta relativamente a este tema. Mas existe uma hierarquia de valores na qual se devem tomar as decisões relativamente à IA. Isto é, valores como a liberdade e a democracia são prevalecentes sobre todos os outros. A decisão sobre o que fazer com o poder gerado pela IA é demasiado importante para ser capturada por interesses setoriais. O caminho é irreversível, mas há muitas formas de lá chegar.  

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