Opinião
Nós e a nova China imperial
Em Outubro do ano passado, o Partido Comunista da China decidiu introduzir o pensamento de Xi Jinping na Constituição do país, um estatuto que até então era exclusivo do líder da Grande Marcha, Mao Tsé-Tung , e do pai do socialismo de mercado, Deng Xiaoping.
Este fim-de-semana, a entronização de Xi Jinping teve um novo e decisivo capítulo, materializado na decisão do comité central de remover da Constituição a expressão na qual se diz que o Presidente e o vice-presidente da República Popular da China não devem servir mais de dois mandatos consecutivos. Por outras palavras, Xi Jinping , que lidera o partido e o país desde Novembro de 2012, poderá perpetuar-se nas funções sem qualquer tipo de constrangimento.
Este movimento tem uma clara importância interna, sobretudo pelo poder ilimitado que confere a Xi Jinping e ao seu círculo de confiança, mas constitui também uma oportunidade para clarificar as relações entre a China e o Ocidente, marcadas pelos movimentos de aquisição que as empresas chinesas continuam a protagonizar na Europa. Os exemplos são múltiplos e como tal basta recordar apenas o último: a compra pela Fosun (que em Portugal detém a Fidelidade e controla 25% do BCP) de 75% do capital da casa francesa de moda Lanvin.
A China tem músculo financeiro e um regime que exerce o poder e define estratégias de forma autocrática, às quais todas as empresas, mesmo aquelas que na aparência são privadas, têm de se submeter. E o dinheiro chinês, sobretudo depois da crise financeira de 2008, deu muito jeito ao Velho Continente. Portugal que o diga.
As avaliações sobre a natureza do regime de Pequim são relevantes, mas inconsequentes. Não sendo expectável que o mundo ocidental corte relações com a China por razões de natureza moral, importa definir claramente os princípios de relacionamento entre as partes, estabelecendo como primado a reciprocidade. Outros dois factores decisivos nesta equação bilateral são a transparência (por razões de mercado) e a protecção de dados (por questões de segurança). Ou seja, o Ocidente deve aceitar o capital chinês na condição de que este se traduza em vantagens mútuas para ambas as partes, exigindo igual tratamento quando esteja em causa investimento estrangeiro na China.