Opinião
Angola e o logro das vacas
Na sexta-feira, chegou a confirmação oficial. José Eduardo dos Santos vai deixar a presidência de Angola, lugar que ocupa desde 1979, após as eleições de Agosto deste ano. O seu sucessor, caso o MPLA vença as eleições, será o actual ministro da Defesa, João Lourenço.
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Trata-se de um fim de ciclo, embora não sejam expectáveis mudanças substantivas na governação de Angola. João Lourenço quererá certamente construir o seu círculo de confiança e para tal contará com o beneplácito de José Eduardo dos Santos, o qual se manterá como líder do partido.
Angola está numa encruzilhada e precisa rapidamente de recuperar as suas contas públicas, o que passa por voltar a pôr a Sonangol, a maior financiadora do Estado, nos eixos, uma missão que foi confiada a Isabel dos Santos. Até porque o Estado angolano não se pode continuar a financiar a taxas próximas dos 20%.
O alerta foi dado por John Ashbourne, analista da consultora britânica, Capital Economics. Angola, "dado o opaco e muitas vezes sigiloso Governo, é o país mais provável de lançar uma surpresa ao estilo de Moçambique ["default"], anunciando que as coisas estão muito piores do que os números oficiais sugerem", disse o analista da consultora britânica, responsável pelo departamento africano.
Estas dificuldades poderão ser mitigadas pelo papel que a nova administração norte-americana e o Reino Unido atribuem a Angola. O Reino Unido passou a ser o destino preferencial das elites do país, são em cada vez maior número os jovens angolanos que vão para Londres estudar com bolsas de estudo, em detrimento de Lisboa. E as autoridades inglesas, que aprenderam a lição com a Primavera Árabe, querem agora estender a sua influência à África subsariana, apostando numa boa relação com Angola para atingir esse objectivo. Uma missão que ficará ainda mais facilitada, em matéria de circulação de capitais, com o Brexit. O mesmo se passa com os EUA de Donald Trump, cuja estratégia é a de concentrar em Angola os apoios destinados à zona dos Grandes Lagos e à pacificação de países como a República do Congo.
Enquanto estas duas potências dão relevância geoestratégica a Angola, Portugal desinteressa-se de Angola com uma insensatez olímpica, da mesma forma que se enamorou por ela quando o dinheiro jorrava. As relações bilaterais não se constroem em tempos de vacas ricas ou vacas magras. Fazem-se com ideias e projectos de longo prazo, matérias em que Portugal tem sido um imenso deserto. O Reino Unido e outros agradecem esta oferta de bandeja.
Trata-se de um fim de ciclo, embora não sejam expectáveis mudanças substantivas na governação de Angola. João Lourenço quererá certamente construir o seu círculo de confiança e para tal contará com o beneplácito de José Eduardo dos Santos, o qual se manterá como líder do partido.
Angola está numa encruzilhada e precisa rapidamente de recuperar as suas contas públicas, o que passa por voltar a pôr a Sonangol, a maior financiadora do Estado, nos eixos, uma missão que foi confiada a Isabel dos Santos. Até porque o Estado angolano não se pode continuar a financiar a taxas próximas dos 20%.
Estas dificuldades poderão ser mitigadas pelo papel que a nova administração norte-americana e o Reino Unido atribuem a Angola. O Reino Unido passou a ser o destino preferencial das elites do país, são em cada vez maior número os jovens angolanos que vão para Londres estudar com bolsas de estudo, em detrimento de Lisboa. E as autoridades inglesas, que aprenderam a lição com a Primavera Árabe, querem agora estender a sua influência à África subsariana, apostando numa boa relação com Angola para atingir esse objectivo. Uma missão que ficará ainda mais facilitada, em matéria de circulação de capitais, com o Brexit. O mesmo se passa com os EUA de Donald Trump, cuja estratégia é a de concentrar em Angola os apoios destinados à zona dos Grandes Lagos e à pacificação de países como a República do Congo.
Enquanto estas duas potências dão relevância geoestratégica a Angola, Portugal desinteressa-se de Angola com uma insensatez olímpica, da mesma forma que se enamorou por ela quando o dinheiro jorrava. As relações bilaterais não se constroem em tempos de vacas ricas ou vacas magras. Fazem-se com ideias e projectos de longo prazo, matérias em que Portugal tem sido um imenso deserto. O Reino Unido e outros agradecem esta oferta de bandeja.
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