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A greve como prova de vida

A Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS) marcou uma greve nacional da Função Pública para 26 de Maio. A paralisação destina-se a reivindicar aumentos salariais e as 35 horas de trabalho semanais, mas não restam dúvidas de que ela irá cumprir outro objectivo, o de se constituir como uma prova de vida, tanto para a CGTP como para o PCP.

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A central sindical não se pode acomodar à prosápia do Governo que passa por ir protelando o prometido à Função Pública. Já o PCP encontra nesta greve uma forma de marcar posição, compensando o facto de ter engolido o enorme sapo da venda do Novo Banco. E o Governo, pela voz da secretária de Estado da Administração Interna, Catarina Ferra, diz em tom condescendente perceber a "impaciência" dos sindicatos, que atribui à "desconfiança" criada pelo anterior Governo.

O Bloco de Esquerda, sem capacidade para fazer este tipo de prova de vida, demarca-se do Governo usando a retórica e proclamando as virtudes das diferenças entre as partes integrantes da geringonça. "Acho que o país ganha com a clareza sobre a diferença dos projectos políticos e das alternativas presentes em cada momento", declarou a líder do BE, Catarina Martins.

Curiosamente, estes movimentos de afastamento do Governo do PCP e do Bloco de Esquerda dão lastro a António Costa, que esta semana se deu ao luxo de uma declaração salomónica: "Se tiver maioria absoluta, entendo que será útil renovar o acordo com o BE, PCP e PEV." Este distanciamento serve também para aquietar quem lá fora teima em desconfiar desta solução governativa "sui generis", fortalecendo a imagem de capacidade de liderança de António Costa.

Na verdade, nesta geringonça cada um desempenha a contento o papel que lhe está reservado, sublinhando a inesperada resiliência de uma solução que foi capaz de unir os cacos de um espaço político fragmentado. O PS governa e vai fazendo cedências pontuais, o Bloco de Esquerda proclama as diferenças ao mesmo tempo que vai fazendo um caminho de aproximação ao poder, e o PCP resiste como partido de protesto e o único capaz de criar acções de protesto de dimensão significativa. A greve nacional da Função Pública, marcada para 26 de Maio, faz parte deste jogo cénico. Será inconsequente, mas é necessária. 
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