Opinião
A galinha dos ovos podres
Os feitos de Cristiano Ronaldo no Mundial da Rússia têm um efeito anestesiante e transportam o futebol para a dimensão emocional, aquela que marca a diferença desta indústria face a todas as outras. É bom para a auto-estima colectiva e seria estulto menorizar este seu relevante papel social.
No mesmo dia em que Cristiano Ronaldo se tornou o melhor marcador europeu de selecções de sempre, ficou-se também a saber que o novo regulamento interno do BCP determina o fim da concessão de empréstimos a clubes de futebol, sustentando esta decisão em duas premissas: o risco e o facto de esta indústria não fazer parte do "core business" da instituição financeira. Existe uma terceira premissa, não colocada no texto do regulamento, mas que ressalta como uma evidência, a reputacional, resultado da exposição que o banco tem ao Sporting.
O clube de Alvalade não pode, contudo, ser catalogado como o único responsável pela decisão do banco ainda liderado por Nuno Amado. Trata-se de uma opção transversal que coloca um gigantesco ponto de interrogação à frente da sustentabilidade do futebol nacional. De uma penada, o BCP atribui-lhe uma classificação de risco elevadíssima (do género activo tóxico) e desgradua-o enquanto indústria capaz de gerar e distribuir riqueza.
Imagine-se o que aconteceria se outros bancos do sistema financeiro nacional colocassem nos respectivos regulamentos internos uma proibição idêntica? Aliás, não são precisos dotes adivinhatórios para concluir que os clubes de futebol iriam ser colocados diante de um problema colossal e provavelmente insolúvel.