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Um voto de confiança na Caixa e no país

Mais parece que a Caixa contratou um crédito ao consumo, tão alto é o juro que vai ter de pagar nos próximos anos pela dívida perpétua que colocou junto dos investidores. Não que isso diminua a relevância desta operação para o sistema financeiro português.

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As coisas valem o que alguém está disposto a pagar por elas. E os investidores só manifestaram disposição para comprar os títulos da Caixa se estes pagassem um juro de 10,75%. Usura? Não, risco. Se por hipótese houvesse um "bail-in" da Caixa, depois do accionista, os primeiros a sofrer perdas seriam os que investiram 500 milhões nesta dívida perpétua. Basta o rácio de capital baixar os 5,125% para começarem a ter prejuízo.

Ao risco do instrumento em si, é preciso juntar o risco do banco e do país, ambos na metade menos recomendável da grelha de classificação das agências de rating. O pioneirismo da Caixa na emissão destes títulos em Portugal também tem um preço, o de abrir o mercado. Tal como tem, ainda que menor,  o Banco de Portugal ter imposto perdas a dois dos maiores actores deste mercado - a BlackRock e a Pimco - com a transferência de dois mil milhões de euros em obrigações do Novo Banco para o BES.

Lá por ter um racional, o juro não deixa de ser muito alto e vai pesar na rentabilidade do banco, ao ritmo de 54 milhões por ano.  "Elevadíssimo", superlativa  Passos Coelho. A oposição quer  fazer cobrar um preço político ao Governo. Mas a menos que prove que era possível fazer esta "enorme" recapitalização de outra forma e mais barato, não passa de demagogia. Comparar esta emissão com os CoCos, como fez o CDS, é ignorância ou má fé.

É que há  vida além da taxa de juro nesta emissão. Esta é a primeira vez que um banco português emite obrigações no mercado em vários anos. A operação abre caminho para que outras instituições portuguesas possam emitir este tipo de instrumento. O que faz dela um contributo para a estabilização do mercado financeiro. É um marco, como antes o foi o reforço de capital do BCP.

Investir em títulos com este tipo de risco, de um banco português, é quase um acto de fé. Basta pensar em todos os cenários sombrios que se podem materializar nos próximos anos e fazer deste um péssimo negócio. Mas cerca de 160 investidores deram ordens de 2 mil milhões de euros para ficar com os títulos. Neste sentido esta operação é um voto de confiança, na Caixa, no plano de reestruturação apresentado, na capacidade da gestão para o implementar, e no país. O que significa que falhar não é opção. Pelo contrário, é imperioso que o banco mostre capacidade de execução e entregue resultados o tão breve quanto possível. Só assim será possível garantir que na próxima emissão, que terá de acontecer nos próximos 18 meses, o juro será mais baixo. 

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