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Um pai da democracia

A par da tristeza, a morte de António Arnaut é um motivo de celebração de uma obra, o Serviço Nacional de Saúde. O socialista chamou-lhe “a maior realização da democracia portuguesa”. E com razão. Mesmo com todos os seus problemas e fracassos, o sistema de saúde português está entre os melhores.

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A esperança média de vida – passou de 67 anos em 1970 para mais de 80 – está ligeiramente acima da média da OCDE, o que atesta não só a qualidade como o universalismo.

O que era um serviço em Lisboa, Coimbra e Porto e só para alguns tornou-se pela sua força fundadora um sistema para todos. E por essa via uma poderosa argamassa da sociedade portuguesa, de coesão nacional. A democracia portuguesa é credora do SNS.

António Arnaut não se revia no sistema de saúde actual, com hospitais públicos geridos por privados e estes a receberem do Estado por serviços que deveria ser o Estado a providenciar. Não porque fosse contra a iniciativa privada, mas porque na sua visão e pelo actual caminho ela acabará por desqualificar o público. É um receio legítimo, mas não tem de ser assim.

O privado deve existir e o público sentir a sua concorrência. Mas o SNS tem de ser capaz de oferecer meios e condições para atrair e reter competências, sem perder de vista a sua sustentabilidade. Se for desnatado, Portugal voltará a ter dois sistemas e dois países. E menos coesão.

O espírito da Expo 

Faz hoje 20 anos que uma parte de Lisboa renasceu e a cidade se reconciliou com o Tejo. Mais do que uma Feira, a Expo 98 foi uma afirmação de modernidade da capital, mas também do país. Uma terapia de auto-estima.

A Feira foi e ficou a renovação perene de uma zona degradada e abandonada da cidade. A capital ganhou uma nova centralidade alternativa. Ficaram equipamentos que hoje são símbolos de um Portugal moderno na ciência e na cultura. Ganharam-se 5 quilómetros de frente ribeirinha, semente de uma reconciliação com o rio que continua a frutificar pela cidade. A energia renovadora espalhou­-se pelo país nos programas Polis.

A Expo foi também exemplo de descontrolo orçamental – apesar das preocupações para que se pagasse a si mesma –, pecado que o país foi forçado a expiar mais de uma década depois. Foi também símbolo de pressão e especulação imobiliária, e nisso serve de alerta para o presente.

Mostrou sobretudo como uma zona, uma cidade e até um país podem reinventar-se. E esse é talvez o seu maior legado.

 

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