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Sobre o papel de Rui Rio

Rui Rio continua sem conseguir ganhar o partido e tem até muita gente a remar contra ele. A votação sobre a eutanásia voltou a mostrar fracturas profundas entre o líder e a bancada parlamentar do PSD.

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Há mais figuras de peso a vincarem distâncias, como Pedro Santana Lopes, que deixou o conselho nacional. Os putativos sucessores, como Luís Montenegro, vão afiando as facas em públicas críticas.

 

O partido duvida que Rui Rio seja o homem capaz de recuperar o eleitorado que as sondagens dizem que o PSD perdeu. Teme que possa até ter pior resultado que Santana Lopes. Neste tempo e nesta Europa de dramáticas mudanças no eleitorado, há um sentido de urgência, trava-se um combate pela relevância e sobrevivência política. O que torna tudo mais sanguíneo.

 

O PS está no poder, está à frente nas intenções de voto, mas também pressente o risco. No texto que escreveu antes do congresso dos socialistas, Pedro Nuno Santos afirmava que o acordo parlamentar que deu origem à actual solução governativa "pode ter salvo o PS".

 

Depois do que foi o socratismo, pode mesmo. Mas é um "pode". Na incerteza, o homem que se diz ir suceder a António Costa defende que só há um caminho capaz de dar e segurar eleitorado para os socialistas: o que segue pela esquerda.

 

Augusto Santos Silva crê que as eleições se ganham mais ao centro - "o caminho não é oscilarmos para os extremos, mas sim manter a autonomia do nosso posicionamento central". António Costa ficará feliz por ter quem cuide e fale para os vários eleitorados e vai explorando, de forma inteligente, as duas vias. Mas a maior aproximação ao centro e ao PSD só foi possível porque os sociais-democratas têm, entretanto, outro líder.

 

Depois do pêndulo político ter oscilado para uma direita mais liberal com Passos Coelho e a troika (com um memorando negociado pelo PS), e depois mais para a esquerda com a geringonça, é salutar que o país possa regressar a um maior equilíbrio. Rui Rio é peça-chave, como se viu no recente acordo sobre a legislação laboral e antes nas medidas para o interior. Seria bom que se repetisse no Orçamento do Estado.

 

Muitos sociais-democratas não gostam e não aceitam a disponibilidade de Rui Rio para acordos com o primeiro-ministro, porque isso serve os objectivos eleitorais de António Costa. Mas também serve os do país e olhando para as sondagens não se pode dizer que esteja a penalizar o PSD.

 

A estratégia promove uma reabilitação do partido aos olhos dos eleitores, afirma o seu papel no sistema político, sem o invalidar como alternativa. Claro que, a dado ponto, Rui Rio terá de ser capaz de vincar também as diferenças.

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