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Quem mexeu no meu balcão da Caixa

Anunciar o encerramento de 180 balcões da Caixa já é coisa para incendiar o país. Em ano de eleições autárquicas, com vários municípios em risco de perder o seu balcão, pior ainda.

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"Ninguém peça à Caixa Geral de Depósitos (CGD) para ficar em todos os sítios onde os outros bancos não querem ficar. Se isso acontecesse, então a Caixa não saía dos seis anos de prejuízos que teve", avisou Paulo Macedo depois de anunciar um resultado negativo de 1.859 milhões de euros. O choque da perda serviu para atenuar o choque dos balcões e dos cerca de 2.200 empregos que será necessário extinguir.


Já se sabia que o plano era esse. Mas vê-lo confirmado ateou os protestos, com a proximidade das eleições municipais a darem combustível à indignação. Para um autarca, perder o balcão da Caixa é dar um trunfo à oposição. Há um valor simbólico de poder, até de segurança, associado à presença do banco do Estado. Fechar uma agência do BCP ou do Santander não tem o mesmo impacto. Uma cidade que tem uma agência da Caixa é mais cidade do que uma sem ela.

Vieram autarcas manifestar a sua fúria e os partidos, sem excepção. Se a Caixa não serve para prestar o serviço público, então serve para quê? O presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas assinala, na entrevista publicada hoje pelo Negócios, a pertinente distinção: "A Caixa é um banco público. Não é um banco de serviço público."

De acordo que a Caixa não tem uma concessão de serviço público, não recebe por ele. Mas já recebeu muito dinheiro dos contribuintes e vai receber mais. E é normal que, a haver um banco público, seja ele a garantir o acesso generalizado e equitativo de todos os portugueses aos serviços financeiros.

O argumento esbarra na realidade. E a realidade é que todos os restantes bancos do sistema estão a encerrar balcões que não são economicamente rentáveis. Se a Caixa os mantiver abertos perde dinheiro e perde para a concorrência.


Depois há o factor tecnológico, que continuará a levar as agências da rua para o ecrã do smartphone. A dezena de milhar de postos de trabalho perdidos e os milhares de agências encerradas é um efeito da crise, mas sobretudo de uma mudança de paradigma, em que rácios de capital mais exigentes obrigam a uma eficiência muito maior, sob pena de comprometer o retorno do capital investido que todos os bancos têm de procurar e a Caixa de entregar, ao Estado e a Bruxelas.

Como qualquer mudança de paradigma esta gera atritos e incompreensões, obriga a uma adaptação. E nesse processo, cabe ao Estado prevenir e resolver os efeitos perversos. É sua obrigação acautelar que o encerramento de balcões não resulta em exclusão no acesso a serviços financeiros.

O Presidente da República já sentenciou que o banco manterá presença em todos os concelhos do país. O ministro das Finanças diz estar "completamente seguro" de que todos os portugueses terão acesso a serviços bancários através da CGD (pode não ser propriamente um balcão). E Paulo Macedo, que tem muito mais senso político do que tinha António Domingues, já ensaia um recuo: o banco está a reavaliar a lista de agências a fechar. 
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