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Porque sobem as acções

Fosse o mercado accionista um barómetro exacto do rumo esperado para a economia e seriamos tentados a acreditar que a Zona Euro caminha a passo apressado rumo a um virtuoso ciclo de crescimento.

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Fosse o mercado accionista um barómetro exacto do rumo esperado para a economia e seriamos tentados a acreditar que a Zona Euro caminha a passo apressado rumo a um virtuoso ciclo de crescimento. Há razões para algum optimismo. Mas não o que apregoa a valorização de 15% das acções da região em pouco mais de dois meses.


Este desempenho, que corresponde ao melhor arranque de ano em mais de uma década, seria impossível sem a dose cavalar de esteróides anabolizantes injectada pelo BCE. Ao deprimir a taxa de rendibilidade das obrigações (em vários casos para terreno negativo), a compra de dívida pela autoridade monetária empurra os investidores para activos de maior risco.


Há um racional para a valorização das acções. Quanto menor a taxa de juro das obrigações de longo prazo, maior a avaliação das cotadas. Isto porque a taxa de juro sem risco, usada para "descontar" o valor presente dos fluxos de caixa futuros da empresa, é menor. Quanto mais baixo o desconto, mais alta a avaliação. Mas com taxas de juro já perto de zero, este factor já pouco conta.


Outra hipótese é a valorização assentar na expectativa de um forte crescimento dos lucros e, logo, dos fluxos de caixa libertos. As previsões dos analistas apontam para um crescimento de 9,5% dos lucros das cotadas da Zona Euro em 2015, de acordo com a Thomson Reuters. Uma expectativa fundada na melhoria da procura interna, proporcionada pelo aumento do consumo (a queda do preço do petróleo dá uma ajuda) e do investimento (graças ao crédito mais barato). Mas também no ganho de competitividade das exportadoras europeias, proporcionado pela queda do euro. Este último factor explica em boa medida porque as acções alemãs estão em recorde e podem, segundo os analistas ouvidos pelo Negócios para um dos temas desta semana do Investidor Privado, subir ainda mais.


A questão é se tudo isto justifica o desempenho das acções europeias, onde os investidores já pagam 24 vezes os lucros obtidos no último ano. E 16,7 vezes os lucros esperados para os próximos 12 meses. Ambos muito acima da média histórica de 11,8 vezes.


Na verdade, estas contas pouco parecem importar. O dinheiro vai para as acções não porque se espere um crescimento muito robusto dos lucros, mas porque se sabe que os investidores não têm muitas opções onde procurar retorno, que simultaneamente permitam movimentar rapidamente o dinheiro. Cabe a cada investidor decidir se apanha o comboio, como defendem os estrategos dos bancos de investimento, ou se prefere a segurança do cais.

 

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