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Os campeões europeus da banca

O resgate do Popular pelo Santander com o alto patrocínio de Bruxelas e Frankfurt veio reacender o debate sobre a legitimidade e as virtudes do plano para a criação de campeões europeus na banca.

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A operação foi elogiada pela Comissão Europeia e pelo BCE. É a prova dos nove – feita com uma prova de fogo – da qualidade e eficácia do novo sistema de resolução, garantem. Com os detentores de instrumentos financeiros mais arriscados a contribuírem para o resgate, sem o envolvimento dos contribuintes, sem garantias públicas. Tudo isto só foi possível porque o Santander apareceu para salvar o dia. O presidente do BCE fez questão de agradecer publicamente a intervenção do banco liderado por Ana Botín. Para o Santander, está longe de ser uma estreia neste papel: fê-lo com o Banesto de Mario Conde em 1994 e, mais recentemente, com a aquisição de várias "cajas".

Haver no sistema grandes bancos capazes de absorver outros mais pequenos em apuros é essencial para deixar de fora o Estado, como aconteceu neste caso. Sem isso, o novo desenho que pretende separar o risco bancário do soberano é falível. Portugal tentou e não conseguiu. Nem com o BES (o Fundo de Resolução tem uma dívida de 3.900 milhões ao Estado), menos ainda com a venda do Banif ao Santander (3.000 milhões entre injecção e garantias).


A criação de uma liga europeia de grandes bancos tem outras vantagens. É mais fácil supervisionar um número reduzido de grandes bancos sistémicos do que uma miríade deles. Instituições com maior escala têm maior facilidade em obter uma rentabilidade sustentável num cenário de exigências de capital elevadas.


Mas o "masterplan" tem os seus riscos. Diminuição da concorrência, que talvez seja o menos preocupante, face ao avanço esperado das "fintech" em áreas agora dominadas pela banca tradicional. Criação paulatina de bancos demasiado grandes para falir, o que, paradoxalmente, poderá originar resgates públicos de ainda maior dimensão. Subalternização das necessidades e prioridades das economias que não dispõem de um campeão europeu e onde o mercado é dominado por instituições estrangeiras.


Este último é o risco, ou pelo menos o receio, que mais preocupa em Portugal. E não é infundado. Havendo um problema num banco de maior importância também veremos Ana Botín a intervir para garantir "a certeza e a estabilidade" do sistema financeiro português? Nada a obriga a isso.

A liga dos campeões europeus da banca é boa para quem nela joga. Fará dos grandes ainda maiores, tal como acontece no futebol. A legitimidade para a criar foi dada quando os países abdicaram de soberania sobre o seu sistema financeiro em nome de uma União Bancária protectora. Mas, tal como está, é um jogo viciado. Porque não serve a todos. Porque lhe continua a faltar uma peça essencial, sem a qual a fragmentação monetária nunca terminará: um fundo europeu de garantia de depósitos. 
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