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07 de Dezembro de 2015 às 10:15

O altruísmo de Zuckerberg

Mark Zuckerberg e Priscilla Chan anunciaram, numa carta à sua filha recém-nascida, que vão doar 99% das acções do Facebook. Mas não exactamente para fazer caridade.

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Mark e Priscilla não escolheram uma fundação, como Bill e Melinda Gates. Criaram uma empresa de responsabilidade limitada, detida por eles próprios, cuja actividade será financiada por acções do Facebook, até ao fim dos seus dias. O compromisso assumido é de mil milhões de dólares por ano, durante os primeiros três anos. A soma total dependerá da evolução do valor das acções da rede social. A arquitectura da Chan Zuckerberg Initiative permite também que o CEO do Facebook continue a sê-lo por muitos anos, pelos simples facto de manter o controlo da maioria do capital.

Ao contrário de uma fundação, a empresa de Mark e Priscilla poderá investir em projectos que venham a ter lucro e fazer lobby junto de decisores políticos de forma a sensibilizá-los para os problemas que consideram prioritários. O modelo escolhido valeu um coro de críticas a Zuckerberg, que se sentiu na obrigação de responder... No Facebook.

Claro que a Chan Zuckerberg Initiative é uma bem montada operação de marketing. O "post" da carta tem 1,4 milhões de "likes" e 91 mil comentários. A própria carta assinala que "todos os membros da comunidade Facebook assumem um papel" neste propósito. Será também uma forma de poupar impostos, embora sem os privilégios de uma fundação.

Mas a iniciativa é muito mais do que isso. E a abordagem escolhida só mostra que Zuckerberg leva a sério o projecto, porque lhe dá a flexibilidade necessária para fazer a diferença nas áreas em que pretende apostar. Porque permite-lhe aplicar à filantropia princípios de gestão que usa no Facebook.

O mais relevante é o pensamento a longo prazo, o foco nas próximas gerações. A ideia assumida de que a investigação e projectos que serão apoiados e financiados deverão produzir resultados muito para lá do tempo de vida de Zuckerberg e Chan. "Esta missão - fazer avançar o potencial humano e promover a igualdade - obriga a uma nova abordagem", diz a carta, que passa por "fazer investimentos a 25, 50 ou até 100 anos". E fazê-los tendo noção que muitas vezes levarão a becos sem saída, encerrando caminhos para que outros se abram.

"A nossa sociedade tem uma obrigação de investir agora para melhorar a vida de todos os que vão viver neste mundo, e não apenas dos que agora estão vivos", diz a carta. Um tipo de investimento que os Governos - para quem o longo prazo são os quatro ou cinco anos que têm para assegurar a reeleição - raramente estão dispostos a fazer. A carta transporta uma noção de solidariedade e justiça intergeracional, muitas vezes presente no discurso, mas quase nunca na prática política. O combate às alterações climáticas tem sido disso um paradigma.

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