Opinião
Fidelidade em excesso
A derrocada na bolsa chinesa veio colocar em evidência a elevada exposição da carteira da Fidelidade às acções do país asiático.
A derrocada na bolsa chinesa veio colocar em evidência a elevada exposição da carteira da Fidelidade às acções do país asiático. Um peso que desafia as regras de diversificação que devem presidir a uma gestão prudente.
A Fidelidade tem desde Maio do ano passado um dono chinês. Se no final de 2013 não consta no relatório e contas qualquer investimento em acções chinesas, um ano depois estão aplicados 554 milhões ou 50,3% da carteira de acções estrangeiras. O peso baixa para 35,8% se forem consideradas também as acções portuguesas. Convém assinalar que as aplicações directas no mercado accionista pesam só cerca de 15% nos investimentos da seguradora.
Mas aplicar metade da carteira de acções estrangeiras num mercado que pesa cerca de 18% na capitalização bolsista mundial parece insensato do ponto de vista da diversificação do risco, recomendada pela teoria de gestão de portefólios. A derrocada das acções chinesas nas últimas semanas provocou uma erosão de 22% na carteira de títulos da Fidelidade, atestando a volatilidade a que esta está sujeita. Ainda que o saldo do ano continue a ser positivo.
É importante que se refira que a carteira de acções da Fidelidade não tem apenas uma inclinação para a bolsa chinesa. Logo a seguir vêm as acções de empresas portuguesas, com um peso de 29%. Em suma, mais de dois terços do investimento está em dois mercados.
A Fidelidade é da Fosun, que é soberana para decidir onde investe. E seguirá certamente as regras que existem no sector, que têm como preocupação preservar a solvência das empresas. Mas não deixa de causar alguma perplexidade ser possível tal concentração. É pôr os ovos em poucos cestos. Um exemplo que os investidores não devem seguir.
"Encorajamos a Fidelidade a fazer investimentos fora de Portugal, a diversificar o risco da sua carteira para fora do mercado português, mas dentro dos países da OCDE", afirmou recentemente Liang Xinjun, presidente executivo da Fosun. É só fazer o mesmo também com as acções chinesas.
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