Opinião
Carta ao leitor
Os media não podem ter um monopólio para espalhar a palavra, mas só eles podem assegurar que ela é confiável, porque a sua razão de existir está nesse contrato de confiança com o leitor, o ouvinte, o espectador.
A digitalização está a transformar a forma como comunicamos, como nos relacionamos, como trabalhamos, enfim, como vivemos. Também a organização das empresas e os modelos de negócio estão em acelerada mutação. Nesse vórtice transformador, o impacto não é igual para todos. Bem no meio, e expostos à maior disrupção, estão os media.
Basta pensar na revolução ocorrida nos hábitos de consumo de informação e o efeito que teve nas vendas de jornais. Ou lembrar que o Google ou o Facebook são, naquilo que é o seu negócio "core" e onde mais facturam, empresas de media. São hoje dois gigantes mundiais porque souberam virar do avesso um sector, em legítimo benefício próprio, ainda que com perigos para os quais as sociedades começam a despertar.
Estas transformações trouxeram oportunidades, como a amplificação das audiências, mas impuseram desafios tremendos ao modelo de negócio tradicional dos media, em muitos casos fatais para a continuação dos títulos.
Mas tal como o vídeo não matou a estrela de rádio, a digitalização também não matará os media. Forçou uma adaptação, em muitos sentidos para melhor, levou-os a evoluírem na forma como se apresentam, agora muito mais permanente e diversificada, através de várias plataformas.
O papel social dos media é hoje tão ou mais relevante. Sabemos que a desintermediação, em que qualquer um pode ser um divulgador em larga escala de informação através das redes sociais, tem as suas virtudes, mas pode também ter consequências terríveis no rumo das sociedades.
Menos jornalismo livre será sempre menos democracia e nunca ambos estiveram tão ameaçados como nas últimas décadas no mundo ocidental. Os populismos e nacionalismos emergentes desprezam a liberdade de imprensa e procuram cerceá-la. É assim nos EUA ou na Hungria.
Os media não podem ter um monopólio para espalhar a palavra, mas só eles podem assegurar que ela é confiável, porque a sua razão de existir está nesse contrato de confiança com o leitor, o ouvinte, o espectador. Sendo controverso, é por isso que o New York Times pode publicar um artigo de opinião anónimo de um membro do "staff" da Casa Branca: sabemos que se o não fosse, nunca seria publicado enquanto tal.
Você, leitor, sempre foi a personagem central. Nesta nova realidade ainda o é mais porque, para continuarem a desempenhar da melhor forma o seu imprescindível papel, os jornais precisam do apoio financeiro de quem os lê, como assinantes das edições impressas e digitais. Para, com humildade, continuarem a poder escrutinar os vários poderes, a produzir informação com profundidade, completa e rigorosa. Aqui, no Negócios, procuraremos ser sempre fiéis a esse contrato.