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Até onde irá a graça?

Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente faz hoje dois anos. Quem queira encontrar argumentos para um balanço negativo terá dificuldade em fazê-lo com seriedade. Há-os, e vários, a suportar o contrário.

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Olhando para trás, o aspecto mais crucial da sua intervenção foi o amparo institucional que deu a um Governo apoiado por uma original combinação de forças no Parlamento e que, por isso, gerava grande desconfiança interna e externa. O sempre presente optimismo, mesmo que não tão irritante como o do primeiro-ministro, foi um cimento e um bálsamo. Marcelo deu estabilidade ao país, numa altura em que ainda se contavam os dias para a instabilidade.

O tempo veio dar razão a Marcelo até nos momentos em que esse amparo foi mais visível, como quando estendeu uma decisiva mão a Mário Centeno na altura em que o ministro estava "debaixo de fogo" por causa da Caixa. Hoje, Centeno é, de longe, o maior activo do Governo na imagem externa de Portugal.

Estar de bem com um Executivo que vai bem nas sondagens pode ser óbvio. Mas Marcelo não deixou de ser crítico e interventivo quando o Governo falhou, como na tragédia dos incêndios. Aí, foi até mais. Foi, como cabe a um Presidente, um factor de coesão do país. A sua intervenção evitou que se instalasse um sentimento de orfandade em relação ao Estado.

A "verborreia frenética", que tem os seus riscos, vem sendo um trunfo de popularidade. Num contraste brutal com o antecessor, o poder de Marcelo faz-se não da gestão de silêncios, mas de afectos e "selfies". Até agora, tem sido eficaz.

Em estratégia que ganha não se mexe. Na essência, o Marcelo que tivemos até aqui não tem porque mudar. É duvidoso de que o novo ciclo no PSD aberto pela eleição de Rui Rio inaugure um tempo novo no relacionamento com o Governo. Quer o Presidente quer António Costa têm, por ora, mais a ganhar em não se hostilizarem demasiado. Marcelo foi crítico, mas tem sido também construtivo.

À esquerda, e até dentro do PS, há desconfiança e receio sobre o que poderá fazer um Presidente de centro-direita com níveis estratosféricos de aprovação nas sondagens. A pergunta é pertinente: o que fará Marcelo com eles? Mantendo o estado de graça, continuará a achar graça ao Governo?

Ficar-se por preservar o "status quo" é pouco para quem pediu uma reinvenção. Se Marcelo quer deixar esse legado, terá de ser mais exigente com o Governo na resposta aos desafios de longo prazo do país e mais pressionante na adopção de consensos
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