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A espinhosa missão de Centeno

Mário Centeno, que hoje se estreia à frente da reunião do Eurogrupo, terá como principal missão ajudar a levar a bom porto uma reforma da Zona Euro que a torne mais resistente no embate com a próxima crise, promova um crescimento mais homogéneo e melhore a imagem da moeda única aos olhos de um eleitorado cada vez mais eurocéptico.

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Uma empreitada de monta, obrigatória, mas espinhosa. A incapacidade em completar a união bancária é disso um testemunho. Aprendeu-se a lição - é preciso separar o risco soberano do bancário - mas a vacina continua incompleta, porque lhe falta um ingrediente fundamental: o fundo de garantia de depósitos comum.


A união bancária foi aprovada pelo Conselho Europeu em Junho de 2012 e mais de cinco anos depois continua perneta por falta de entendimento entre os governos. Se nem este passo se consegue dar, como se tomarão outras medidas que implicam mais dinheiro dos Estados que mais têm, como a criação do Fundo Monetário Europeu ou de instrumentos financeiros de estabilização económica. De Lisboa a Nicósia, de Valeta a Helsínquia, há ideias muito diferentes e até antagónicas sobre estes temas.


Pode ser que o ambiente económico mais favorável contribua para quebrar o gelo das negociações. Como defende o ministro das Finanças português, é preciso aproveitar este período de bonança para reformar o que fragiliza a moeda única (pena que não seja bem essa a visão na política interna e no que a Portugal diz respeito...).


A entrada do SPD para o quarto governo de Merkel - este domingo foi ultrapassado mais um teste decisivo com a aprovação pelo partido da passagem a negociações formais - e o seu discurso europeísta ajudará ao compromisso, mas está longe de o garantir.


Decisivo neste processo, e essa tem sido uma mensagem em que Centeno tem insistido, é um reforço da transparência das instituições do euro. Estas têm de ser mais escrutináveis, mais próximas dos eleitores. Esse pode ser um caminho eficaz para enfrentar o populismo anti-europeu, a enfermidade mais grave que assola o Continente.


O presidente do Eurogrupo pode e deve ter aí um papel central. Desde que recebeu simbolicamente a campainha das mãos de Jeroen Dijsselbloem, Mário Centeno já esteve com Macron, com o ministro das Finanças alemão e no BCE. Ora este périplo pelas principais capelinhas do poder na Zona Euro em nada ajuda à dessacralização das instituições. Percebe-se o papel legitimador desses encontros, mas seguir a tradição nunca produzirá resultados diferentes.


A Zona Euro precisa de uma reforma feita pela Zona Euro, em que os seus eleitores se possam rever, não de mais uma emanação do directório.

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