Opinião
O Trumponomics está a falhar no crescimento
Longe de um milagre, Trump não conseguiu qualquer tipo de melhoria no crescimento económico. Para entender porquê, ajuda lembrar que Trump não fez muita coisa desde que assumiu o cargo.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, prometeram um milagre económico. Eles argumentam que quando os Estados Unidos adoptarem as suas políticas, o país atingirá consistentemente um crescimento económico anual acima de 3%, ou mesmo de 4%. Depois de um ano aos comandos, promovendo a desregulamentação e tendo conseguido o que queria em termos de cortes de impostos, como é que a equipa de Trump se está a sair?
Ainda estamos no início, mas os resultados até agora foram decepcionantes. E as perspectivas a médio prazo dos Estados Unidos para o crescimento sustentado podem estar em perigo se Trump perseguir as políticas que diz querer.
Trump afirmou repetidamente que o desempenho económico da América em 2017 deve ser visto como o resultado directo das suas políticas, destacando a subida do PIB do terceiro trimestre, estimada em 3,3% e depois revista em baixa para 3,2%. No entanto, no quarto trimestre, o crescimento foi de 2,6%, e as estimativas iniciais sugerem que o crescimento no conjunto do ano não ultrapassará os 2,3%. Esse valor é mais baixo do que o alcançado durante a administração do ex-presidente Barack Obama em 2014 (2,6%) e 2015 (2,9%).
Na verdade, na administração de Obama, a taxa de crescimento trimestral superou os 3% sete vezes, chegando a atingir os 4,6% em duas ocasiões. A partir do terceiro trimestre de 2009, o crescimento foi positivo em todos os trimestres, excepto em dois. Mas não foi só o crescimento do PIB que foi robusto na administração de Obama; o governo também assistiu a um aumento considerável do emprego - a economia criou mais de dois milhões de empregos por ano em sete dos oito anos de mandato -, além de uma queda no desemprego e uma maior participação no mercado de trabalho.
Longe de um milagre, Trump não conseguiu qualquer tipo de melhoria no crescimento económico. Para entender porquê, ajuda lembrar que Trump não fez muita coisa desde que assumiu o cargo. Apesar da sua constante fanfarronice por causa da desregulamentação, o impacto económico total das suas revogações regulatórias tem sido trivial em relação ao tamanho da economia.
Além disso, os cortes de impostos que Trump implementou no final de 2017 terão um impacto positivo muito limitado no crescimento. A reforma fiscal passa sobretudo por uma redistribuição das famílias de rendimentos médios - particularmente de estados com uma elevada tributação, como Nova Iorque e Califórnia - para os americanos mais ricos.
As pessoas que possuem capital que já existe, digamos assim - como grandes edifícios em Nova Iorque - ficam bem. Mas a lei não oferece muitos incentivos para investir em novo capital, seja lançando uma nova empresa, desenvolvendo novos produtos ou investindo em novas instalações e equipamentos. Além disso, como mostrei num debate recente em Nova Iorque, a reforma fiscal pode mesmo ter um efeito negativo na investigação e desenvolvimento, que é um dos principais impulsionadores do crescimento a longo prazo nos EUA.
Olhando para os dados de 2017, não há sinal de que o investimento das empresas tenha crescido durante a liderança de Trump. Sim, é verdade que esta é uma série de dados volátil, porque sobe e cai com o curso habitual dos eventos. Mas também é outra área onde Obama colocou a fasquia elevada durante os seus dois mandatos.
A coisa mais positiva que se pode dizer sobre o primeiro ano de política económica de Trump é que ele não cumpriu a sua promessa de campanha de provocar uma grande disrupção no comércio. O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) permanece intacto, assim como as relações comerciais com a China e outros parceiros importantes dos EUA. Em Janeiro, a administração de Trump impôs tarifas sobre painéis solares e máquinas de lavar roupa, mas são pequenas em relação ao tamanho da economia. Como resultado, Trump não provocou uma recessão massiva e auto-infligida, e talvez devamos felicitar a sua equipa com mais frequência por evitar esse cenário.
Mas, mais uma vez, estamos a entrar num período de maior risco relacionado com Trump. Tendo terminado o programa Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA), no ano passado, Trump colocou 800 mil jovens que foram levados para os EUA ilegalmente em crianças em perigo de serem expulsos do país.
Dado que estas são pessoas altamente produtivas que contribuem fortemente para a economia dos EUA, a abordagem de Trump poderá ter consequências económicas desastrosas, já para não falar das consequências humanas. Trump e os seus aliados também estão a perseguir reduções acentuadas na imigração legal, o que reduzirá as perspectivas de crescimento a médio prazo dos EUA, talvez de forma significativa.
Trump ainda não deixou de lado a sua ameaça de rasgar o NAFTA. Se der algum passo nessa direcção, não será útil para a economia dos EUA. Ironicamente, também poderá causar grandes danos à economia mexicana, resultando provavelmente num aumento da migração ilegal para os EUA. Sem uma disrupção desse tipo, as tendências demográficas sugerem que a migração da América Latina para os EUA continuará a diminuir de forma constante.
O maior perigo que Trump coloca diz respeito à desregulamentação financeira. Tanto a administração Trump como o Congresso liderado pelos republicanos estão a tentar reverter as protecções contra o risco sistémico que foram implementadas após a crise financeira de 2008. Infelizmente, esse tipo de tentativas costuma acaba mal. Quando a administração de George W. Bush fez o mesmo, ficámos com a Grande Recessão.
Simon Johnson é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor da obra White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You.
Copyright: Project Syndicate, 2018.
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Tradução: Rita Faria