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Michael Boskin - Economista 28 de Dezembro de 2017 às 14:00

A economia mundial em 2018

Os dois riscos mais óbvios para se ter em atenção são a Europa, onde pode ocorrer uma reviravolta cíclica, e o Médio Oriente, rico em petróleo, onde as tensões podem aumentar mais uma vez.

Todos os grandes indicadores macroeconómicos - crescimento, desemprego e inflação - sugerem que 2017 será o melhor ano da economia norte-americana da última década. E a economia global está a desfrutar de um crescimento abrangente e sincronizado, muito superior ao que se podia imaginar. A questão agora é se esse forte desempenho continuará em 2018.

 

A resposta, naturalmente, dependerá de políticas monetárias, orçamentais e comerciais nos Estados Unidos e em todo o mundo. No entanto, é difícil prever que propostas políticas surgirão em 2018. Existem novos chefes de Estado nos EUA, França e Reino Unido; os líderes alemães ainda não formaram uma coligação de governo desde as eleições gerais em Setembro; e a Reserva Federal dos EUA tem um novo líder. Além disso, grandes mudanças em importantes economias em desenvolvimento, como a Argentina, a Arábia Saudita e o Brasil, tornaram ainda mais difícil a tarefa de perspectivar o futuro.

 

Ainda assim, devemos esperar o melhor. Antes de mais, devemos esperar que o crescimento global sincronizado a uma taxa de pouco menos de 4% continuará em 2018, como o Fundo Monetário Internacional projectou em Outubro. O crescimento não só aumenta os rendimentos como facilita a gestão de problemas como o crédito malparado e os défices orçamentais. Como disse John F. Kennedy, ex-presidente dos EUA, num discurso de Outubro de 1963 em que promoveu a sua proposta de reduzir os impostos, "quando a maré sobe, levanta todos os barcos".

 

Pela minha parte, prevejo que a recuperação global continuará, mas a uma taxa ligeiramente mais lenta de cerca de 3,5%. Os dois riscos mais óbvios para se ter em atenção são a Europa, onde pode ocorrer uma reviravolta cíclica, e o Médio Oriente, rico em petróleo, onde as tensões podem aumentar mais uma vez.

 

Em segundo lugar, esperemos que a Fed, guiada pela mão firme do seu novo líder, Jerome "Jay" Powell, continue – ou até acelere - a sua normalização da política monetária, tanto pela subida dos juros como pela redução do seu balanço. E devemos esperar que as condições económicas permitam aos outros grandes bancos centrais, especialmente o Banco Central Europeu, seguir o exemplo.

 

Nesta frente, prevejo que os principais bancos centrais continuarão a normalizar as políticas monetárias de forma mais gradual do que é necessário. O maior risco aqui é que os mercados podem tentar testar a Fed sob a sua nova liderança, por exemplo, se a inflação subir mais rápido do que o previsto.

 

Em terceiro lugar, esperemos que a reforma fiscal republicana atinja o seu objectivo de aumentar o investimento, a produção, a produtividade e os salários na próxima década. Aqui, antecipo que o investimento nos Estados Unidos nos próximos anos será relativamente maior do que se não se tivesse tomado nenhuma medida.

 

Se o investimento vai ou não crescer dependerá de muitos outros factores além do imposto sobre as empresas. Mas, ainda assim, pode-se esperar que a reforma fiscal aumente a produção, a produtividade e os salários. A questão não é se, mas quando.

Se os efeitos completos da legislação não forem sentidos antes das eleições de 2018 ou de 2020, esse atraso pode ter consequências políticas. O maior risco é que os seus benefícios demorem a fazer-se sentir e que as suas principais disposições sejam revertidas sempre que os democratas voltarem ao poder.

 

Em quarto lugar, esperemos que os governos de todo o mundo comecem a enfrentar a crise iminente relacionada com os custos das pensões e saúde, que estão a crescer há décadas. À medida que os programas sociais se tornam mais caros, retiram dinheiro de outras áreas como a defesa, gerando cada vez mais pressão para subir impostos que penalizam o crescimento.

 

A Europa, em particular, não deve deixar que a sua recuperação cíclica resulte em complacência. Muitos Estados-membros da União Europeia ainda precisam de reduzir sua dívida pública, e a Zona Euro precisa de resolver a sua crise da "banca zombie". Além disso, as reformas estruturais do mercado de trabalho do género das que o presidente francês Emmanuel Macron defende seriam bem-vindas.

 

Infelizmente, temo que o progresso ao nível das reformas estruturais seja esporádico, na melhor das hipóteses. O perigo é que o crescimento lento não leve a ganhos salariais suficientes e à criação de emprego necessária para baixar o elevado desemprego jovem em muitos países. Outro risco é que as tentativas de reforma possam provocar uma reacção política negativa que seria prejudicial ao investimento de longo prazo.

 

Em quinto lugar, esperemos que a Zona Euro consiga evitar uma crise monetária. Isso dependerá em grande parte do facto de a chanceler alemã Angela Merkel conseguir formar um governo de coligação e restaurar a estabilidade política na maior economia da Europa.

 

Em sexto lugar, devemos esperar que a UE e o Reino Unido façam um acordo razoável sobre o Brexit que preserve as fortes relações comerciais. O principal risco, neste caso, é que as quedas localizadas no comércio tenham repercussões e provoquem danos mais abrangentes.

 

E, além da Europa, esperemos que as negociações entre os EUA, o Canadá e o México em relação ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) resultem num acordo que facilite o comércio daquele continente. Para o comércio em geral, o maior risco é que a administração Trump comece uma disputa comercial em que todos sairão a perder, devido à sua compreensível ânsia de ajudar os trabalhadores da indústria norte-americana.

 

Em sétimo lugar, esperemos que as novas políticas relacionadas com as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) tenham em conta as preocupações legítimas e concorrentes de todas as partes interessadas. Por um lado, há motivos de preocupação com a concentração de poder de mercado de determinadas empresas da Internet, e com os efeitos das novas tecnologias na privacidade pessoal, aplicação da lei e segurança nacional. Por outro lado, os novos avanços tecnológicos poderiam gerar ganhos económicos imensos.

 

É fácil imaginar um cenário de muita regulação, ou de muito pouca. Também é fácil imaginar uma reacção pública em larga escala contra as principais empresas de tecnologia, particularmente se o auto-controlo inadequado ou a recusa em cooperar com a lei conduzir a um evento terrível.

 

Aqui, prevejo que alcançar um equilíbrio apropriado da política demorará anos. Se algum evento futuro atingir emocionalmente o público, o sentimento geral pode mudar drasticamente. Em última análise, no entanto, suspeito que a concorrência e a inovação sobreviverão às regulações futuras.

 

Finalmente, e mais importante que tudo, esperemos que o terrorismo seja frustrado em todos os lugares, os conflitos diminuam, a democracia e o capitalismo recuperem algum impulso, e um maior civismo e diálogo voltem ao domínio público. Se isso acontecer em 2018, certamente será um ano muito bom.


Michael J. Boskin é professor de Economia na Universidade de Stanford e membro sénior da Hoover Institution. Foi chairman do conselho de assessores económicos de George H. W. Bush de 1989 a 1993.

 

Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria

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