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26 de Agosto de 2015 às 20:00

O apocalipse do ar na Europa

Os responsáveis políticos europeus gostam de dar lições ao resto do mundo sobre a poluição atmosférica. A Ásia, e a China em particular, é o alvo preferido para as críticas.

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De facto, às vezes parece que nenhuma grande conferência ambiental fica completa sem uma apresentação dos responsáveis ??políticos europeus sobre as supostas "melhores práticas" do seu continente, que o resto do mundo devia imitar. Quando se trata de poluição do ar, no entanto, a Europa devia pensar em falar menos e ouvir mais.

 

A poluição do ar é uma preocupação cada vez maior em toda a Europa. A Organização Mundial de Saúde chamou-lhe "o maior risco individual para a saúde ambiental" do continente, estimando que 90% dos cidadãos europeus estão expostos a poluição ao ar livre que excede as diretrizes da OMS para a qualidade do ar. Em 2010, cerca de 600 mil cidadãos europeus morreram prematuramente devido à poluição do ar interior e exterior e os custos económicos têm sido estimados em 1,6 biliões de dólares, cerca de 9% do PIB da União Europeia.

 

Londres e Paris sofrem de problemas particularmente graves de qualidade do ar. Os níveis de dióxido de nitrogénio em algumas zonas de Londres atingem regularmente duas a três vezes o limite recomendado. No Reino Unido, a poluição do ar mata cerca de 29 mil pessoas por ano, colocando-a apenas atrás do tabagismo enquanto causa de morte prematura. Paris pode ser ainda pior. Em Março, depois de os níveis de poluição atmosférica terem ultrapassado os de Xangai, a cidade impôs uma proibição de condução parcial e introduziu o transporte público gratuito.

 

Infelizmente, os políticos europeus não parecem estar à altura do desafio. George Osborne, o ministro das Finanças do Reino Unido, tem criticado a liderança britânica na luta contra as alterações climáticas. "Não vamos salvar o planeta por fecharmos as nossas metalurgias, fundições de alumínio e fábricas de papel", disse em 2011.

 

Osborne não está sozinho. Com os políticos europeus a defenderem que a introdução de salvaguardas ambientais irá prejudicar a já fraca economia da UE, é pouco surpreendente que as medidas para limitar a poluição fiquem aquém do objectivo. As directivas propostas da UE que regulam as emissões tóxicas das centrais de carvão são ainda menos rigorosas do que as da China, diz a Greenpeace. No entanto, vários políticos europeus têm apelado para estas sejam diminuídas, com a Hungria a sugerir que sejam demolidas por completo.

 

É certo que os níveis de poluição do ar na Ásia são verdadeiramente preocupantes. O continente engloba nove dos dez países mais poluídos do mundo, segundo o Ranking de Qualidade do Ar de 2014 da Universidade de Yale. Nova Deli está classificada como a cidade mais poluída do mundo, com a poluição do ar a superar em 60 vezes os níveis seguros. Devido ao ar insalubre de Pequim, as empresas estrangeiras pagam um "bónus de dificuldade" de até 30% dos funcionários que lá trabalham.

 

Mas os responsáveis políticos na Ásia pelo menos já reconheceram o problema e estão a tomar medidas para lidar com isso. A China, por exemplo, declarou uma "guerra contra a poluição". Em 2017, Pequim - apelidada de "Greyjing" pelos media internacionais – irá gastar cerca de 760 mil milhões de yuans (121 mil milhões de dólares) para combater a poluição do ar.

 

Na génese das medidas da China estão a melhoria dos transportes públicos, o comércio verde e uma revisão da amálgama energética. O Governo decidiu instalar paragens de autocarro a cada 500 metros nos centros de cidades, reduzir as preços para 5% ou menos numa lista de 54 produtos ambientais e desmantelar muitas centrais de carvão antiquadas e ineficientes. É estimado que a percentagem de combustíveis não fósseis no consumo de energia primário aumente para 20% até 2030. Estas metas deverão ser implementadas de forma rigorosa, dado o forte apoio político no topo da hierarquia.

 

Entretanto, na Índia, os governos municipais em Gujarat, Maharashtra e Tamil Nadu estão prestes a lançar os primeiros esquemas do mundo de limite e comércio de partículas. O Tribunal da Índia até sugeriu uma taxa extra sob os veículos a gasóleo de propriedade privada em Nova Deli.

 

Outras regiões da Ásia estão também a tomar medidas para melhorar a qualidade do ar. O Vietname pretende construir oito linhas ferroviárias urbanas nos próximos anos. Banguecoque, que tem combatido a poluição do ar desde a década de 1990, plantou 400 mil árvores. E o Japão está a oferecer subsídios para carros a hidrogénio e a criar novas áreas exclusivas para peões.

 

A Europa, enquanto uma das regiões mais ricas do mundo, tem o dever de estar na vanguarda do esforço para promover a sustentabilidade ambiental. Quando se trata de poluição do ar, no entanto, os responsáveis ??políticos europeus devem parar de pregar aos outros e concentrar-se nos seus próprios problemas.

 

Asit K. Biswas é um distinguido professor convidado na Lee Kuan Yew School of Public Policy em Singapura e co-fundador do Third World Center for Water Management. Julian Kirchherr é um doutorado investigador na School of Geography and the Environment, University of Oxford.

 

Direitos de autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org

Tradução: André Tanque Jesus

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