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08 de Julho de 2015 às 20:43

Europa e Grécia na corda bamba

Um acordo entre a Grécia e os credores pode não acontecer. Há vários factores que podem explicar esta situação, entre eles, o facto de os interesses gregos e do norte da Europa não estarem alinhados e de existirem animosidades pessoais. Para a Grécia, uma saída do euro não seria fácil, mas se a alternativa é uma austeridade sem fim e sem perdão de dívida, o seu governo pode concluir que deixar a Zona Euro é a melhor opção.

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A Alemanha, por seu lado, preferia evitar uma saída da Grécia. Mas a opinião pública alemã quer, na sua maioria, punir a Grécia, e a chanceler alemã Angela Merkel não quer abrir um precedente de resgates recorrentes para os Estados-membros da União Europeia.

A possibilidade de não se alcançar um acordo seria dolorosa para a Grécia. O país enfrentaria condições económicas caóticas. Mas uma saída do euro também daria à Grécia novas opções: a mais importante seria a capacidade de desvalorizar a moeda para tornar as exportações mais competitivas. Para o resto da Europa, porém, o risco é mais significativo porque além das perdas óbvias relacionadas com o não pagamento da dívida aos governos europeus e instituições internacionais, há o risco de a crise ter repercussões na economia real do continente.

Há três formas de os problemas na Grécia atingirem a economia europeia. A primeira é através da desestabilização das instituições financeiras. A segunda é através dos impactos em Estados-membros em situação semelhante à grega. E a terceira é a possibilidade de surgiram resultados políticos inesperados.

Cada ameaça, por si só, parece ser controlável. Mas prever que elas podem ser controladas não é a mesma coisa do que garantir que vão ser controladas. E a combinação das três tornam imprevisível o impacto que teria na Europa um incumprimento e uma saída da Grécia do euro.

É talvez por isso que os mercados estão nervosos. Os credores parecem ter recuado após o anúncio do referendo na Grécia e apenas os devedores mais confiáveis conseguem obter financiamento de curto-prazo. Se as empresas perceberem que não têm financiamento para os seus projectos, isto pode afectar, rapidamente, a economia real, afectando, ainda mais, a fraca recuperação económica.

É importante lembrar que a crise financeira de 2008 teve início nos Estados Unidos com o colapso da bolha imobiliária. As perdas no mercado hipotecário foram reais, mas modestas e controláveis. Por si só, não teriam colocado os Estados Unidos em recessão e muito menos o restante mundo desenvolvido.

O problema real aconteceu quando os prejuízos atingiram o sistema financeiro norte-americano. No início, muitas autoridades e observadores pensaram que a crise – começando pelo colapso do banco de investimento Lehman Brothers – podia ser contida. Mas as instituições financeiras e as suas ligações não foram, suficientemente, resilientes para absorver o choque e a consequente convulsão devastou a economia real.

Os optimistas irão destacar que as instituições europeias mais expostas à turbulência na Grécia tiveram anos para se preparar. E, de facto, uma parte significativa da dívida pública grega migrou dos bancos para instituições públicas robustas como o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. Nesse sentido, estas instituições públicas já salvaram as instituições privadas.

Mas os riscos não foram eliminados. A margem de erro dos principais bancos e instituições financeiras é estreita porque estes ainda não estão, fortemente, capitalizados. Os prejuízos directos e indirectos – de empresas com negócios na Grécia – podem ameaçar os bancos e levá-los a diminuir os empréstimos. Um pequeno erro de cálculo numa grande instituição pode ter importantes repercussões. Para piorar as coisas, os bancos centrais têm uma capacidade limitada para salvar a economia, numa altura em que as taxas de juro estão próximas de zero.

A segunda forma de os problemas na Grécia atingirem a economia europeia é através de outros países, altamente, endividados, como a Espanha e a Itália. Até agora, os mercados financeiros ainda não entraram em pânico com a capacidade de esses países pagarem a sua dívida. Mas uma alteração na situação política, especialmente em Espanha onde o partido de esquerda Podemos tem tido bons resultados nas sondagens – pode mudar isso num instante.

Finalmente, um default grego e uma saída da Zona Euro pode desencadear forças políticas imprevisíveis com um efeito de arrasto na economia europeia. Na verdade, foi a primeira onda de austeridade na Grécia que levou à eleição do Syriza, um partido de esquerda que poucos pensaram que algum dia podia governar.

Novas dificuldades e turbulências económicas podem resultar em governos mais afastados ainda do espectro político (os neo-nazis do Aurora Dourada também beneficiaram dos problemas económicos na Grécia) ou gerar uma significativa instabilidade, com os governos a serem incapazes de garantir a segurança básica. Além disso, o primeiro-ministro Alexis Tsipras virou-se para o presidente russo Vladimir Putin, no que pode ter sido uma ameaça velada para o resto da Europa. E é difícil saber o que pode acontecer a seguir. O que é óbvio, porém, é que os riscos para a Europa são sérios.

As boas notícias são que a Grécia tem ainda de, oficialmente, entrar em incumprimento ou deixar a Zona Euro. Ainda há tempo para um lado ou outro – ou ambos – cederem ou encontrarem um compromisso. De facto, é isso que o Fundo Monetário Internacional parece estar a procurar, tendo em conta o recente relatório sobre a Grécia, onde apela a uma melhor gestão da dívida e a uma reestruturação da dívida.

A maioria dos gregos quer, desesperadamente, permanecer no euro. Já os restantes países europeus podem não querer arriscar saber se as repercussões de uma saída da Grécia podem ser contidas.  

 

Mark Roe é professor na Harvard Law School. É autor de estudos sobre o impacto da política nas organizações empresariais e na "corporate governance" nos Estados Unidos e em todo o mundo.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org  

Tradução: Ana Luísa Marques 

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