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É tempo de deixar as mulheres prosperarem

Com a economia global a recuperar, os governos têm agora de criar as bases para um crescimento de longo prazo, criando condições para as mulheres, em todos os locais, tomarem consciência de todo o seu potencial. A discriminação e os abusos contra as mulheres não podem continuar a ser tolerados.

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Capacitar as mulheres está a ser cada vez mais reconhecido como uma prioridade nos debates públicos realizados por todo o mundo. A questão de como se pode dar mais oportunidades económicas às mulheres esteve na agenda do encontro anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, este ano. E aqueles que há muito defendem as mulheres estão a sentir-se ainda mais motivados, com muitos outros – tanto homens como mulheres – a reconheceram a urgência dessa tarefa.

 

Dar às raparigas e mulheres a oportunidade de serem bem-sucedidas não é apenas a coisa certa a fazer; pode também transformar as sociedades e economias para o bem de todos. Por exemplo, se a participação das mulheres no mercado de trabalho estivesse no mesmo nível que a dos homens, isso impulsionaria o PIB até 9% no Japão e 27% na Índia.

 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) documentou muitos outros benefícios macroeconómicos associados à capacitação das mulheres. Está demonstrado que reduzir diferenças de género no emprego e na educação ajuda as economias a diversificarem as suas exportações. Nomear mais mulheres para os conselhos de supervisão dos bancos pode evitar a formação de um pensamento de grupo único, o que assegurará uma maior estabilidade e resiliência no sector financeiro. Diminuir as desigualdades de género reduz também as desigualdades de rendimentos, permitindo um crescimento mais sustentável.

 

Diminuir as disparidades de género parece que é pedir muito mas é essencial para a prosperidade e desenvolvimento económico de longo prazo. Assim, o desafio para cada país é fazer o máximo com os talentos das suas populações.

 

Reconhecer o potencial das mulheres é uma missão universal. Mas algumas das barreiras que impedem o desenvolvimento são também universais. Surpreendentemente, quase 90% dos países têm uma ou mais restrições legais em vigor que estão baseadas no género. Em alguns países, as mulheres têm direitos de propriedade limitados comparativamente aos dos homens; em outros, os maridos têm o direito de proibirem as suas mulheres de trabalhar.

 

Além das barreiras legais, as mulheres enfrentam também obstáculos sociais e culturais que limitam o seu acesso à educação, trabalho e finanças. Isto é particularmente verdade em países com sistemas políticos frágeis.

 

Agora que há mais consciencialização pública, é tempo de avançar com medidas concretas para ajudar as mulheres a continuarem a trabalhar enquanto constituem família. Consideremos o caso da Noruega - onde os cuidados para as crianças são acessíveis e onde há provas de que as licenças parentais são bem-sucedidas no sentido de permitir que tanto as mães como os pais trabalhem - para termos uma ideia sobre como é que poderíamos alcançar isto. Sim, estes programas são dispendiosos. Mas valem o investimento, dado que as mulheres que trabalham dão um enorme contributo para o crescimento económico.

 

Além disso, os programas que ajudam as mulheres a manterem os seus postos de trabalho mudam também os papéis dos pais. Na Noruega, e em outros países com políticas semelhantes, os pais partilham agora por igual a licença parental e a criação dos filhos. Em resultado disso, mais mulheres podem procurar cargos de liderança nos seus trabalhos e na vida pública.

 

Os países que não têm ainda o nível de desenvolvimento económico que a Noruega tem, tipicamente enfrentam outros desafios relacionados com o género, incluindo um acesso limitado à água e à educação. Infelizmente, e apesar de muitos países terem feitos progressos na redução das disparidades de género nas matrículas na escola primária, há ainda muito trabalho que tem de ser feito no ensino secundário e no ensino superior. Se estas disparidades persistirem, as mulheres não vão ser capazes de aspirar a atingirem o mesmo poder económico e político que os homens. Assim, a Noruega determinou que a educação das meninas é uma prioridade nos seus programas de desenvolvimento internacionais.

 

Além da educação, assegurar que as mulheres dos países em desenvolvimento têm acesso a financiamento é fundamental porque isso permite-lhes participar totalmente na economia, incluindo como empreendedoras. Quando as mulheres têm capacidade para começarem os seus próprios negócios, podem impulsionar a inovação e ajudar os seus países a prosperar.

 

Dado que a participação das mulheres na força de trabalho é tão importante para o crescimento económico, organizações como o FMI estão empenhadas em trabalhar com governos por todo o mundo para capacitar as mulheres em termos económicos. Os programas apoiados pelo FMI para o Egipto e Jordânia, por exemplo, incluem medidas para impulsionar o investimento em creches públicas e em transportes públicos seguros.

 

A somar às políticas específicas, a conversa de hoje está focada na necessidade de uma mudança social mais ampla. E agora que movimentos como o #Equalpay e #MeToo ganharam destaque, parece que essa mudança pode estar a chegar. Tem sido inspirador ver tantas mulheres, raparigas, e – sim – homens a mostrarem-se contra atitudes retrógradas em relação às mulheres, atitudes que nos têm impedido a todos de avançar.

 

Com a economia global a recuperar, os governos têm agora de criar as bases para um crescimento de longo prazo, criando condições para as mulheres, em todos os locais, tomarem consciência de todo o seu potencial. A discriminação e os abusos contra as mulheres não podem continuar a ser tolerados. É tempo de as mulheres prosperarem.

 

Erna Solberg é primeira-ministra da Noruega e co-presidente do encontro anual, de 2018, do Fórum Económico Mundial. Christine Lagarde é directora-geral do Fundo Monetário Internacional e co-presidente do encontro anual, em 2018, do Fórum Económico Mundial.

 

Copyright: Project Syndicate, 2018.
www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

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