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03 de Maio de 2016 às 20:30

A luta online contra o EI

Se levar esta batalha para o ciberespaço, o EI conseguirá alcançar muitas das vantagens de uma guerra assimétrica. As barreiras de entrada a uma ciberguerra são notavelmente baixas, mesmo para actores não estatais.

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Mesmo enquanto os Estados Unidos e os seus aliados prosseguem com bombardeamentos aéreos no Iraque e na Síria, o seu alvo, o Estado Islâmico (EI), pode estar a preparar retaliar noutra frente. Se levar esta batalha para o ciberespaço, o EI conseguirá alcançar muitas das vantagens de uma guerra assimétrica – a menos que os Estados Unidos se organizem para contrariar os esforços daquele grupo.

 

As barreiras de entrada a uma ciberguerra são notavelmente baixas, mesmo para actores não estatais. Mesmo que o EI não detenha actualmente a capacidade para levar a cabo ciber-ataques, é pouco provável que venha a encontrar dificuldades para recrutar seguidores com essa competência como requisito; no passado, outras organizações terroristas e insurgentes, incluindo a al-Qaeda, fizeram-no. Pelo preço certo há muitos ciber-mercenários, simpatizante e freelancers disponíveis.

 

Houve peritos que avisaram que o EI poderia atacar infra-estruturas desprotegidas ou residências privadas. Centenas de milhares de sistemas de controlo comerciais e industriais, incluindo a Internet das Coisas, que cresce cada vez mais rápido, estão a deixar cada vez mais expostas parcelas da vida quotidiana. E ainda mais problemático é o aviso da Iniciativa de Ameaça Nuclear, uma organização sem fins lucrativos vocacionada para o reforço da segurança global, de que muitas instalações nucleares civis e militares estão indevidamente protegidas contra ciber-ataques.

 

No ano passado investigadores de segurança informática e de redes revelaram, para pouca surpresa ou fanfarra, que o EI estava activo na chamada "dark web". Estes sites, que são invisíveis para os motores de busca e somente acessíveis através de software especializado, são muitas vezes paraísos para propagadores de pornografia infantil, drogas, ou outros produtos ilícitos, incluindo serviços de pirataria e softwares maliciosos. Este desenvolvimento foi um primeiro sinal de que o EI está activamente a tentar desenvolver uma capacidade cibernética que lhe permita efectuar ataques mesmo que perca controlo sobre faixas territoriais.

 

Até agora, os terroristas têm estado atrás de outros parceiros criminosos na adopção de moedas virtuais como a unidade monetária ponto a ponto Bitcoin. Mas isto pode mudar se os países ocidentais tiverem sucesso no combate às actuais fontes de financiamento do EI, incluindo tráfico de petróleo e extorsão. Na verdade, o EI já solicitou, alegadamente, doações em Bitcoin.

 

O grupo está também a utilizar a "dark web" para recrutar e disseminar a sua propaganda a aspirantes a jihadistas. Para audiências simpatizantes, um empurrão online pode, por vezes, ser suficiente para espoletar uma acção violenta. Isto é especialmente verdadeiro para indivíduos que já estão radicalizados, tais como Syed Farook e Tashfeen Malik, o marido e mulher que abriram fogo numa festa em San Bernardino, Califórnia, em Dezembro.

 

Talvez mais perturbador sob uma perspectiva operacional é a possibilidade de o EI utilizar a "dark web" para coordenar com operacionais o planeamento e execução de um grande ataque na Europa ou nos Estados Unidos. Os terroristas estão sempre à procura de estar um passo à frente das forças da lei e dos serviços de inteligência; deve esperar-se que o EI procure softwares que encriptem o endereço IP de um utilizador e que dirija o tráfego de internet através de uma série de servidores anonimizados.

 

Para dizer a verdade, a incursão do EI no ciberespaço cria oportunidades para as forças ocidentais e as agências de inteligência conduzirem vigilância, se desenvolverem a capacidade para o conseguir. Tal como o EI mostrou estar longe de ser omnipotente no campo de batalha físico, também pode ser derrotado no ciberespaço. Para lutar efectivamente neste domínio sem fronteiras, os Estados Unidos terão de trabalhar de perto com os seus parceiros internacionais. Mas há passos que podem dar sozinhos.

 

Recentemente, o secretário da Defesa, Ashton Carter, instou o Comando Cibernético dos Estados Unidos – o braço militar dedicado a operações ciber-espaciais – a "intensificar a luta" contra o EI. Mas seria inteligente para os Estados Unidos expandir a luta recrutando voluntários civis.

 

Quando se trata de ciber-ataques, os números contam. Outros países, tais como o Irão, a China e a Coreia do Norte, já contam com grandes exércitos cibernéticos, com dezenas de milhares de recrutas que podem monitorizar, rastrear, combater e mitigar ameaças ao país.

 

Nos Estados Unidos, a Michigan Cyber Civilian Corps organizou-se para responder a ataques cibernéticos. Replicar este programa – descrito como algo entre "o departamento de bombeiros voluntários e a guarda nacional – ao nível nacional poderia reforçar as capacidades dos Estados Unidos. O Departamento de Segurança Interna já considerou a criação de uma "reserva cibernética" de especialistas em informática, e um relatório da Booz Allen Hamilton, uma empresa de tecnologia e segurança, sugeriu esforços similares que garantam aos Estados Unidos mais combatentes cibernéticos no evento de um ataque.

 

Para triunfar contra o EI, os Estados Unidos e os seus soldados cibernéticos terão de ser capazes de reagir rapidamente, enquanto são conduzidos por uma estratégia abrangente. Combater online o EI exige uma contínua resposta adaptativa. E vai exigir os meios humanos para tornar isso possível.

 

Colin P. Clarke é um cientista político da RAND Corporation. Isaac R. Porche III é engenheiro sénior da RAND Corporation.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.

www.project-syndicate.org 

Tradução: David Santiago

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