Opinião
A longa marcha para Paris
Durante as próximas semanas, Paris vai, mais uma vez, dominar as manchetes mundiais. Desta vez, porém, as notícias são positivas. Os líderes mundiais reúnem-se na capital francesa para alcançar um acordo significativo na luta contra as alterações climáticas.
À primeira vista, a Conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas, que terá lugar entre 30 de Novembro e 11 de Dezembro, assemelha-se muito à conferência de 2009 em Copenhaga. Na altura, os negociadores não conseguiram alcançar um acordo vinculativo. Ainda assim, o resultado desejado continua o mesmo: um acordo internacional que reduza as emissões de gases com efeito de estufa e limite o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.
Ainda assim, desta vez, há diferenças significativas. As duras negociações económicas da altura foram substituídas por ventos de oportunidade. As negociações já não estão limitadas à partilha dos encargos e dos sacrifícios. Além disso, fala-se de avanços tecnológicos e inovações que tornam o desenvolvimento sustentável possível. Em resumo, as negociações têm lugar num ambiente favorável à acção colectiva, com o apoio da comunidade empresarial, das instituições financeiras, da sociedade civil, dos líderes religiosos e políticos e da opinião pública em geral.
Além disso, o acordo de Paris vai ser construído de baixo para cima. Qualquer que seja a forma do acordo, ele não vai ser totalmente de cima para baixo. Foi pedido aos países que apresentem o que podem alcançar em termos de redução de emissões após 2020 através dos chamados Intended Nationally Determined Contributions (INDC). Apesar de esta solução não ser a adequada para combater as consequências das alterações climáticas, é um grande passo em frente.
Desde a cimeira de Copenhaga, tem havido progressos concretos da parte de actores não governamentais, cuja cooperação vai ser necessária para implementar um acordo internacional. Um número sem precedente de cientistas, líderes empresariais e políticos regionais como presidentes de câmara e governadores já deixaram claro a necessidade de um acordo forte em Paris. O apoio alargado a um acordo forte está reflectido nos mais de 10 mil compromissos feitos por cidades, regiões, empresas e investidores para combater as alterações climáticas.
Este consenso foi também visível em Maio na Cimeira Business & Climate e no Climate Finance Day, onde investidores e líderes empresariais se comprometeram a liderar uma transição para uma economia de baixo carbono. Os participantes nos dois eventos defenderam a definição de um preço do carbono, subsídios para substituir os combustíveis fósseis, mais parcerias com entidades estatais e a união de financiamento público e privado para reduzir os riscos de investimentos que impliquem baixos níveis de carbono.
Em Julho, mais de dois mil investigadores reuniram-se em Paris na conferência Our Common Future Under Climate Change e concluíram que os esforços ambiciosos para mitigar as emissões de dióxido de carbono poderiam ser economicamente viáveis e ter numerosos benefícios secundários. Esta conclusão está em linha com o relatório de 2014 New Climate Economy, que define que é possível combater as alterações climáticas e, ao mesmo tempo, promover o crescimento económico.
Gradualmente, o financiamento está a ser canalizado para regiões que necessitam de assistência na luta contra as alterações climáticas. A OCDE estima que o fluxo de financiamento público e privado alcançou os 62 mil milhões de dólares em 2014. E, em Outubro, o Banco Mundial comprometeu-se em aumentar o seu financiamento até 29 mil milhões de dólares por ano.
Financiamentos inovadores começam a tornar-se cada vez mais importantes, especialmente, nos países desenvolvidos. Em Fevereiro, o Yes Bank, o quinto maior banco privado da Índia, emitiu a primeira "Green Infrastructure Bond". Em Agosto, a International Finance Corporation emitiu a obrigação "green Masala" a cinco anos na London Stock Exchange. Entretanto, investidores institucionais têm vindo a comprar uma série de obrigações focadas na água, em habitações económicas, cidades inteligentes, e num conjunto de outros projectos de adaptação e mitigação.
Entretanto, políticos locais em cidades e regiões por todo o mundo estão, muitas vezes, à frente dos líderes nacionais. Na World Summit Climate & Territories, que decorreu em Lyon a 14 de Julho, governos locais e regionais, que representam 11% da população mundial, comprometeram-se com uma redução de emissões equivalente a 15% do esforço necessário para manter o aquecimento global abaixo dos dois graus Celsius.
O que todos estes esforços têm em comum é o desejo de obrigar os negociadores em Paris a reconhecer a urgência das alterações climáticas. Os participantes querem que os líderes mundiais compreendam que o progresso é, não só, possível, como já está a ocorrer. Um acordo global sobre o clima continua a ter uma importância vital. Mas consegui-lo já não é um salto de fé. É um salto de braços abertos.
Rana Kapoor é fundador e CEO do Yes Bank. Johan Rockström é director executivo do Stockholm Resilience Centre. Khalifa Ababacar Sall é o presidente da Câmara de Dakar, Senegal. Feike Sijbesma é CEO e chairman do Managing Board at Royal DSM.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
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Tradução: Ana Luísa Marques