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27 de Maio de 2014 às 13:14

A gestão da floresta é uma paisagem em mudança

As tendências mundiais estão a mudar a forma como as empresas abordam a sustentabilidade. Por um lado, os consumidores e investidores exigem às empresas que aumentem os seus padrões. Por outro lado, as mudanças tecnológicas estão a gerar mais e melhor informação de forma mais rápida, o que possibilita níveis sem precedentes de transparência e responsabilização.

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Em nenhum lado isto é tão evidente como no que toca à gestão das florestas mundiais.

 

As florestas são um recurso vital. Mas, hoje, estão debaixo de uma pressão tremenda devido à crescente procura por comida, combustíveis e fibras. Nos últimos 13 anos, o mundo perdeu uma média de 50 campos de futebol de floresta a cada minuto. A informação desactualizada e de má qualidade coloca muitas vezes desafios até às empresas com as melhores intenções.

 

Mas os tempos estão a mudar. Muitas empresas estão a virar as suas atenções para as florestas, firmando compromissos fortes e criando expectativas nos seus fornecedores. Por exemplo, o Consumer Goods Forum, um grupo de mais de 400 retalhistas, industriais e outras organizações, prometeu mobilizar recursos para atingir uma meta de desflorestação líquida igual a zero em 2020. Para atingir esta meta e cumprir os compromissos anti-desflorestação, várias empresas, incluindo a Nestlé, estão a mudar para cadeias de fornecimento totalmente rastreáveis.

 

A rastreabilidade de alguns produtos importantes – incluindo óleo de palma, soja e pasta de papel – vai determinar o sucesso de toda a agenda anti-desflorestação. E conseguir essa rastreabilidade vai exigir a implementação das melhores práticas ao longo de toda a cadeia de fornecimento. Muitas empresas já deram passos para aumentar a visibilidade dentro das suas cadeias de abastecimento. Agora é importante ir além das práticas empresariais e adoptar padrões de rastreabilidade em toda a indústria em cada um destes produtos.

 

Os líderes empresariais estão motivados, não apenas pelos seus consumidores e investidores, que exigem maior responsabilização, mas também pelo aumento dos riscos materiais nas suas operações. Os mecanismos de reporte, como os programas da CDP da cadeia de abastecimento e florestas, estão a incentivar as empresas a divulgar mais informação ao público. As empresas estão a competir para desenvolver melhores estratégias para gerir os seus riscos e identificar medidas que vão ajudar o planeta e também os seus lucros.

 

Ao mesmo tempo, o mundo entrou numa era de um progresso tecnológico assustador. A computação na "nuvem" diminuiu o tempo que era necessário para analisar conjuntos de dados enormes e complexos. Os satélites giram em torno do globo e enviam imagens várias vezes por dia. A conectividade global, através de portáteis e smartphones, significa que em todo o mundo as pessoas conseguem obter informação em tempo real nas suas salas de estar, nas salas de reunião e na palma das suas mãos.

 

Todas estas tendências estão a convergir em torno da Global Forest Watch, uma nova e dinâmica plataforma online liderada pelo World Resources Institute e por 40 outros parceiros. Fortemente inspirada no Google Earth Engine, que promoveu a visualização do maior conjunto de dados do mundo sobre florestas, a Global Forest Watch dá às empresas as informações mais recentes, permitindo-lhes perceber como é que as suas operações afectam as florestas e onde é que há lacunas. Tudo isto tornou-se mais rápido e mais barato do que nunca.

 

Pense no óleo de palma, um dos produtos mais omnipresentes do mundo – quase metade de todos os produtos vendidos no supermercado contêm óleo de palma – responsável por uma indústria de 44 mil milhões de dólares em todo o mundo. Apesar de o óleo de palma poder ser produzido de forma sustentável, a sua produção é actualmente um importante factor de desflorestação na Indonésia, Malásia e outros países tropicais.

 

Agora, com a Global Forest Watch, as empresas que produzem e usam óleo de palma vão poder demonstrar que os seus produtos não contribuem para a desflorestação. Os compradores e comerciantes podem detectar o desmatamento das florestas e determinar se é legal e apropriado. Podem agir e suspender a relação com o fornecedor, se for necessário.

 

Isto é só o início. Os novos satélites que estão a ser testados vão recolher imagens com ainda maior resolução. As aplicações móveis estão a ser criadas para as pessoas recolherem e distribuírem melhor informação e mobilizar acção.

 

Não são só as empresas que têm a ganhar. Os governos estão a descobrir novas formas de acompanhar as políticas e reforçar a aplicação da lei, e as comunidades que dependam de florestas vão poder ver mais facilmente o que está a acontecer à sua volta e alertar os outros. Eos três – empresas, governos e comunidades – podem trabalhar colectivamente para criar estratégias práticas e incentivos que vão ajudar países com florestas a conservar os seus recursos naturais e a atingir as metas de desenvolvimento económico.

 

Num mundo em que as notícias sobre recursos naturais são desoladoras, estes desenvolvimentos trazem novas esperanças. Longe vão os dias em que as empresas e os governos simplesmente não davam informações para tomar decisões importantes. Os maus actores podem ser responsabilizados, e os bons devem ser encorajados a fazer ainda melhor. Nesta nova era, os negócios como dantes já não são mais bons negócios.

 

Andrew Steer é presidente e CEO da World Resources Institute. Paul Bulcke é o CEO da Nestlé SA, e co-presidente da Consumer Goods Forum.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.

www.project-syndicate.org

Tradução: Bruno Simões

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