Opinião
ZON Optimus, o Case Study made in Portugal
O outrora inovador sistema de ensino da Harvard Business School, baseado no estudo de casos práticos, tem há muito vindo a ser implementado nas universidades portuguesas.
Curiosamente, o recente acordo com vista à fusão entre a ZON e a Optimus poderá muito bem vir a ser um caso de estudo internacional, como uma das primeiras fusões entre uma operadora de televisão por cabo e uma congénere de serviços móveis.
A nível nacional, a ideia de juntar numa só empresa serviços de televisão por cabo, internet, telefone fixo e móvel, está longe de ser virgem. Nesse sentido, a PT tem feito enormes esforços em publicitar esta oferta integrada, havendo mesmo quem veja na ZON Optimus um problema central: o atraso em relação à concorrência. Além fronteiras, o referido modelo de negócio está já implementado, surgindo à cabeça o exemplo da Belgacom cuja aposta estratégica também passa pela convergência de serviços, ainda que com uma oferta menos sofisticada do que a das operadoras portuguesas.
Olhando também para as recentes tendências mundiais no sector das telecomunicações, deixa-se adivinhar uma vaga de fusões e aquisições que permitam a entrada neste mercado do quadruple-play. Relatos das passadas semanas dão conta de um avanço da Vodafone UK sobre a operadora de televisão germânica Kabel Deutschland, enquanto que se especula que a Liberty Global estará a acertar os detalhes de uma oferta para adquirir a Virgin Media, ainda detida em 3% pelo excêntrico Sir Richard Branson.
Posto isto, a questão que se coloca é se este conceito de oferta integrada tem ou não o potencial que lhe é tão facilmente atribuído. Numa perspectiva puramente económica, poder-se-á rotular esta ideia de sinergética, na medida em que relevantes custos duplicados poderão ser cortados e vendas potenciadas através de métodos de "price bundling".
Contudo, o ponto mais delicado desta estratégia está relacionado com o consumidor e a sua abertura a um compromisso total com uma só marca que lhe forneça todos estes serviços. Se por um lado a Associação de Defesa do Consumidor já veio publicamente enaltecer o conforto que a solução poderá trazer; por outro, não é claro que um utilizador de rede móvel esteja disposto a mudar de operadora facilmente, tendo em conta que esta é uma indústria onde as economias de rede são preponderantes e o nível de fidelização dos clientes às operadoras é elevado.
No que toca à fusão da ZON e da Optimus, foram já publicamente apresentadas sinergias estimadas entre 350 e 400 milhões de euros. Uma coisa é certa: desde o anúncio do negócio, tanto as acções da empresa detida em 28.8% por Isabel dos Santos, como as da Sonaecom estão em contínua ascensão, criando valor para os accionistas de ambos os lados.
Caso a CMVM e a ANACOM aprovem a operação, só o futuro dirá se este vai ser um "case study" de sucesso em práticas de fusões e aquisições, ou um mero fracasso de sobrestimação de sinergias por não entendimento do cliente final.
Vice-President Nova Investment Club