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28 de Setembro de 2007 às 13:59

Vento e água

“Não temos petróleo, mas temos vento e água.” Foi com estas palavras que José Sócrates se dirigiu aos portugueses em Moncorvo, quando ali foi, há dias, anunciar aos trasmontanos que a Comissão Europeia havia aprovado o projecto do aproveitamento hidroeléc

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Um projecto verdadeiramente estratégico, como salientaria também o primeiro-ministro, uma vez que, através deste empreendimento, se vão articular as energias eólica e hídrica, armazenando-se, através de sistemas de bombagem, a energia excedentária do vento.

Quer isto dizer que as queixas dos ambientalistas em Bruxelas de nada valeram. Ou melhor: valeram um atraso no arranque das obras de mais de dois anos, o que significa uma perda de muitos milhões de euros para o País, que continua a ver correr o dinheirinho rio abaixo, enquanto não se faz o represamento do precioso líquido.

As queixinhas a Bruxelas dos senhores ecologistas são, além do mais, quase sempre de muito mau gosto e até antipatrióticas. Estes cavalheiros, que enchem a boca com a perda de soberania que resulta da nossa presença na União Europeia, não se coíbem, no entanto, de ameaçar e denunciar, perante a mesma União, as práticas do próprio País, numa tentativa de imporem os seus pontos de vista.

Não conhecemos os argumentos que apresentaram ao Comissário Europeu. Que até podem ser válidos do ponto de vista científico. Porém, o que deve imperar nestes processos é o interesse nacional, que obriga, muitas vezes, à transformação de determinados ecossistemas em benefício da produção de riqueza – no caso concreto, o aumento da produção energética e, consequentemente, a diminuição da dependência do exterior.

Temos assim que o País perdeu tempo e dinheiro, com este atraso de alguns anos, no lançamento deste projecto – um projecto o Eng.º Sócrates, célere, aproveitou para vir anunciar, capitalizando em favor do seu Governo mais uma obra pública de grande envergadura.

Pena foi que não tivesse aproveitado a sua viagem para anunciar a inflexão no que respeita ao Côa. Sim, porque os trasmontanos ainda não se esqueceram de quem é que deu a machada na barragem do Côa. Processo que, em nossa opinião, continua em aberto, pelas razões que o primeiro-ministro invocou: “Não temos petróleo, mas temos...água.”

Não podemos é continuar a meter água quando se trate de agilizar o aproveitamento destes recursos. Supomos que já ninguém põe em causa a autenticidade das gravuras rupestres, que os antepassados esculpiram com abundância naqueles vales. Mas também é certo que as tecnologias de hoje permitem admitir que é possível preservar as gravuras, guardá-las melhor, expô-las à vista de maneira mais cómoda para os visitantes e fazer, ao mesmo tempo, o represamento de água.

Não podemos ser fundamentalistas em relação a este património. Há com certeza dezenas de soluções possíveis para compatibilizar tudo isto, de forma a que o País, e sobretudo aquela região, tire o melhor partido das dádivas da Natureza e daquelas que os homens, ao longo dos séculos, ali foram deixando.

E se, como diz a canção, “o Povo é quem mais ordena”, pergunte-se então ao Povo do Vale do Côa, em Vila Nova de Foz Côa, no Douro Superior, em Trás-os-Montes e Alto Douro, ou até em todo o País, qual é a opinião maioritária sobre este assunto.

Por nós, dispensamos a consulta a Bruxelas. Porque as suas respostas têm tanto de técnico como de interesseiras, ao sabor dos “lobys” que por lá se movimentam.

Ficamos pois à espera das decisões sobre a foz do Tua e sobre os recuos no Côa. E pedimos à EDP que se mexa. Se possível bem e depressa.

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