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02 de Agosto de 2007 às 13:59

Clarividência a bem da Medicina

Todos estarão ainda recordados das diligências efectuadas há uns anos no sentido de criar mais cursos de Medicina em várias universidades do País, em particular na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

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Lembramos em particular o enorme esforço feito pelo Magnífico Reitor de então, o Professor Torres Pereira, que se empenhou de alma e coração na elaboração de uma candidatura credível para competir com outras concorrentes, no caso as Universidades do Minho e da Beira Interior. A UTAD acabou por perder a aposta, mas não porque a sua candidatura fosse menos valiosa do que as outras. Pesou, como se sabe, a decisão política do primeiro-ministro dessa altura, o Engº António Guterres, que era natural do Fundão e primeiro deputado pelo círculo eleitoral de Castelo Branco. O Curso acabou por ser criado na Covilhã, cidade que, no entender de muitos, não reunia as condições que existiam em Vila Real, designadamente no que respeitava ao apoio hospitalar.

Surge esta lembrança a propósito de uma notícia veiculada por um matutino lisboeta com data de 6 de Julho, dando conta da “preocupação” de Espanha com a “invasão” de estudantes portugueses, que estão a encaminhar-se para a Galiza, mais concretamente para o Curso de Medicina da Universidade de Santiago de Compostela (USC).

“A partir do próximo ano” – afirma-se ali – “cumprindo a legislação comunitária, os portugueses deixam de estar obrigados à realização de uma prova específica de acesso. Para o curso de Medicina, aquela universidade galega pública, uma das mais prestigiadas do país vizinho, prevê 300 vagas já no próximo ano, admitindo-se que os estudantes lusos representem, nas contas finais, um número significativo. No ano lectivo que está a chegar ao fim, segundo números divulgados pela USC, o curso de Medicina registou a inscrição de 1.200 alunos – 300 eram portugueses – com uma nota mínima de entrada de 16,5 valores. Numa altura em que o processo de candidaturas já está fechado, o Ministério da Educação espanhol admite que o número de candidatos portugueses às Universidades daquele país chegue às três centenas”.

Bonito serviço é o que popularmente se poderia dizer. Isto porque, nos últimos dez anos, pelo menos, temos estado a “importar” médicos espanhóis para o nosso Serviço Nacional de Saúde porque não houve capacidade de planeamento, nas nossas Universidades Clássicas, para formar os médicos de que o País precisava. Julgamos até que esta carência ainda existe, pelo menos em determinadas especialidades.

Há dez anos, quando podíamos ter criado cursos nas universidades que reuniam condições para o efeito, fomos miserabilistas, não permitindo às universidades do interior a expansão de que tanto precisavam. Agora, vemos os estudantes fugir para a Galiza, Salamanca e Badajoz, e provavelmente para outras regiões espanholas, à procura de oportunidades que lhes são negadas no nosso país.

Foi no que deu a política dos numerus clausus. Por um lado, as nossas Universidades e Politécnicos Públicos vêem-se em “palpos-de- -aranha” para conseguirem sobreviver devido ao número cada vez mais reduzido de alunos e, por outro, milhares de jovens bem capacitados, como se prova pelas boas médias com que concorrem, vão para o estrangeiro à procura da formação que não encontram dentro de portas.

Neste, como em muitos outros assuntos, é necessária clarividência e algum arrojo. Seria bom que aquilo que infelizmente não foi dado à UTAD pelo Engº Guterres pudesse agora ser compensado pelo primeiro-ministro Sócrates, que até é transmontano de nascimento.

A bem da Medicina e do nosso país!

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