Opinião
Negócios aéreos
Passou quase despercebida a fusão da TAP com a Portugália, não obstante a grandeza dos números envolvidos no negócio. De facto, a questão da OTA tem relegado para segundo plano tudo o que diz respeito ao transporte aéreo, que, como todos percebem, já repr
Trazemos hoje este assunto à colação porque ficámos confusos com a última decisão da Autoridade da Concorrência, que deu luz verde à fusão das duas companhias, com algumas ressalvas. E, visto que as regiões do Interior do País têm merecido o maior desprezo, quer da TAP, quer da Portugália, seria a altura de impor também à Transportadora Aérea Nacional o serviço de ligação Bragança/Vila Real - Lisboa, a fim de não continuarmos à mercê do Orçamento de Estado para financiar o défice de exploração. Este bem poderia ser suportado pela boa saúde financeira da TAP, que é a conclusão que se retira do negócio preparado pelo gestor Fernando Pinto.
Transcrevemos de um semanário nacional (edição de 05 de Maio de 2007) a seguinte passagem: “Para comprar 99.81 % do capital da Portugália, a TAP deverá desembolsar 140 milhões de euros”... “Fernando Pinto conta com os aviões da Portugália para a captação de passageiros para as suas rotas internacionais, adequando o porte dos aparelhos à capilaridade da rede regional que pretende recriar na Europa.”
Até aqui tubo bem, salvo o pequeno pormenor de que a Portugália, quanto se sabe, não tem aviões de sua propriedade. Os aviões da maioria das companhias são operados em sistema de “leasing”, o que a TAP poderia muito bem fazer recorrendo ao mercado. Mas vamos esquecer isto.
Continuando na transcrição: “... a integração da PGA na actividade da transportadora aérea nacional terá como efeito a absorção da operação tradicionalmente deficitária da empresa gerida pelo Grupo Espírito Santo, nos últimos 15 anos (em 2005, os prejuízos da PGA terão chegado aos 36,5 milhões de euros, com um passivo acumulado de 249,7 milhões de euros).”
Fica-se sem se saber, portanto, se aos 140 milhões que a TAP irá desembolsar para adquirir a PGA ainda vai ser necessário juntar 250 milhões dos prejuízos acumulados ao longo de 15 anos de operação ruinosa.
As dúvidas são ainda maiores quando se repara numa das exigências que a Autoridade da Concorrência impõe à TAP, para obstar ao seu monopólio nas linhas de Porto/Lisboa/Porto, obrigando a que sejam disponibilizados os “slots” até agora detidos pela Portugália.
Um leigo como nós perguntará: se a TAP tem que ceder a terceiros os direitos que eram da PGA nesta rota, afinal o que é que a transportadora está a comprar?
A resposta é óbvia: Nada!
Estamos em crer que os auditores financeiros da TAP hão-de ter equacionado estas pequenas questões e que não terão razão de ser estas nossas dúvidas àcerca da bondade do negócio.
O qual (negócio), a ser bom, vai deixar margem de manobra à TAP para voltar aos voos de ligação com os aeródromos do interior norte do País. Cujo custo é uma migalha, quando comparado com os défices de exploração da PGA. Que, pelos vistos, não assustam o gestor Fernando Pinto.