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03 de Dezembro de 2010 às 11:52

Vai no Batalha

Dra. Gabriela Canavilhas, afirma, na sua entrevista do passado domingo

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Dra. Gabriela Canavilhas, afirma, na sua entrevista do passado domingo, dia 28 de Novembro, ao "Jornal de Notícias", que a mobilização cívica, política, notável ou anónima da cidade do Porto à volta do "seu" Teatro Nacional - o São João - estaria de alguma forma ligada ao facto de eu ser filho de Ricardo Pais, ou a uma suposta rede de influências que esta filiação conjuraria - acho que é este o desvio, mas a linguagem é estrategicamente errática. E sibilina.

Apesar do escrutínio leviano de um cidadão pelas suas origens (biológicas, sociais, religiosas ou outras) trazer um odor conspirativo e autocrático, ao arrepio de qualquer conceito mínimo de educação, decência e ética públicas, esta decadência não me toca, pelo contrário, ilumina-me. E, em contraluz, vê-se a silhueta da "escola" auto-desresponsabilizante que o chefe do Governo que a Dra. Gabriela Canavilhas integra como ministra da Cultura tem consagrado, com danos à relação entre cidadãos e instituições irreversíveis, dos quais nenhuma derrota eleitoral como a que se adivinha poderá sequer começar a ressarcir-nos. O que é mais grave - e merece a minha atenção e diligência - é a visão que ela encerra sobre a cidade do Porto e as suas instituições democráticas, nomeadamente a sua Assembleia Municipal e a sua (também visada) Vereação, parte integrante do seu "corpus" democrático e cívico; um membro do Governo sugerir, em exercício do poder, que estas instituições - cujo equilíbrio de poderes para um melhor exercício da governação foi consagrado pelo inalienável direito ao voto - possam ser manietadas, influenciadas ou, de alguma forma concertadas, é de uma vileza digna de outro regime e um atentado à idoneidade desta Cidade - e se a Sra. Ministra da Cultura vê assim o Porto, uma "paróquia de recados", estamos conversados quanto ao seu Teatro Nacional, nosso palácio consagrado.

Embora a Dra. Gabriela Canavilhas não o enxergue, a Sra. Ministra deveria ter presente que fui democraticamente eleito, em plebiscito público, por sufrágio universal, para aquele órgão portuense, numa lista credibilizada pelo seu "número um", o insuspeito Dr. Fernando Teixeira dos Santos, actual ministro das Finanças do seu Governo. Eu, o 14º eleito da lista, em observação estrita das obrigações - por Lei expressas - dos Deputados Municipais, designadamente no tocante ao dever natural de respeito e defesa da dignidade institucional e o fomento da credibilidade da mesma, aqui lhe respondo, sem insinuar: o que a Sra. Ministra da Cultura intenta é passar uma imagem de compadrio feudal provinciano, da possibilidade de o normal funcionamento das instituições da cidade estar debaixo de "influências" - há já muito tempo que não se ouvia por aqui tal sobranceria. Nem o Porto é essa paróquia, nem Portugal essa República.

Enfim, estamos apesar de tudo a falar da Ministra da Cultura de José Sócrates que, como tal, nunca viu uma produção própria do TNSJ - mas que arvora sobre ele draconianamente deliberar, sem qualquer conhecimento de causa. A ética - que não é coisa que se ensine, infelizmente - manda respeitar a soberania dos eleitores, que deliberaram a composição dos poderes públicos; pode a Sra. Ministra da Cultura ter a certeza que é o que faço na Assembleia Municipal do Porto, uma das formas de cidadania mais gratificantes que encontrei. Gratificação idêntica, sugiro, outra vez sem insinuar, que procure na prossecução escrupulosa dos seus deveres públicos perante os cidadãos - aguardamos pacientes, mas não indiferentes, por soluções que correspondam a diagnósticos, que correspondam a ideias, que correspondam a algo que se pareça com governação.

Eu chamo-me Nicolau do Vale Pais, sou filho de Regina Maria Fonseca do Vale Pais e Ricardo Jorge Barbosa de Sousa Pais, BI 10552069; nasci a 6 de Maio de 1975, sou um contribuinte da República sem cartão partidário, um seu espectador atento. Sou herdeiro de uma fortuna apartidária intangível, legada por todos os que, durante décadas, lutaram frontalmente pela liberdade de expressão e que honro com uma seminal resistência à intimidação. Não gabo, no entanto, a bravata - a prudência ensina que algumas coisas duram para sempre, outras são transitórias.

Quanto à Cultura, nas suas mãos, vai no Batalha. (*).

(*) "Vai no Batalha": Mentira; expressão usada para referir algo que não vai acontecer
ou não passa de um "filme" (referência ao cinema Batalha, Praça da Batalha, Porto).
in "Heróis à Moda do Porto", Dicionário de Calão e linguarejar do Portuense, de João Carlos Brito (Edição: Lugar da Palavra)
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