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Um jogo muito perigoso

Os israelitas sempre cometeram as maiores barbaridades em total impunidade. Em mais de meio século de existência o estado judeu nunca se coibiu de utilizar os métodos mais violentos para conseguir os seus fins.

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Os massacres não têm conta, os assassinatos foram-se tornando numa prática corrente, as prisões estão cada vez mais cheias, a Palestina foi transformada num enorme campo de concentração. Israel bombardeia cidades quando lhe apetece, rebenta com habitações e infra-estruturas, corta estradas, tortura suspeitos, mata crianças, jornalistas, quem quer que seja, sem qualquer remorso ou problema. É um estado que não respeita a lei internacional, despreza sistematicamente as convenções de Genebra, nunca cumpriu nenhuma decisão das Nações Unidas, não está minimamente preocupado com direitos humanos e outras miudezas. As frequentes interpelações de governos de todo mundo não têm qualquer efeito. E mesmo agora quando se assiste a nova ocupação de Gaza, se corta a água, a luz e se usa, assumidamente, o terror dos bombardeamentos nocturnos contra mais de um milhão de civis em nome de um único soldado, a impunidade está garantida.

Nestas sociedades construídas sobre o medo tudo parece legítimo. E tudo serve de justificação. Por isso a maioria da população apoia todas as atrocidades. O sentimento de se ser odiado e perseguido, o horror dos atentados, a propaganda militar, tudo por junto criam a aceitação generalizada de práticas tão insanas. Por isso também se sucedem os governos de extrema-direita, cada um mais radical do que o anterior, a força dos partidos religiosos não pára de crescer e a esquerda desapareceu em grande medida enterrada pelo abominável Shimon Perez.

As sociedades também enlouquecem. E o caso de Israel não é único, bastando simplesmente recordar e muito a propósito a Alemanha nazi. Certos países, em determinados contextos históricos, são arrastados para lógicas dementes e espirais de violência extrema, levando pessoas comuns a aceitar e cometer as maiores selvajarias. Acontece hoje em Israel, mas ainda recentemente o vimos no Ruanda ou na Sérvia.

Tudo isto não seria contudo possível sem o aval do ocidente. Dos Estados Unidos conhece-se o apoio incondicional, da Europa a hesitação nas palavras, mas a cumplicidade nos factos. Nesta matéria, como noutras, a Europa é um factotum envergonhado da América.

Para além desta dependência objectiva da Europa face à política externa americana, existem também razões subjectivas para tudo se permitir e desculpar aos israelitas. A II Guerra Mundial ainda está demasiado perto e a má consciência dos europeus ainda é muito presente. Criticar os israelitas, ou seja os judeus, aviva sempre a memória do genocídio cometido pelos nazis que contou com a conivência de muitos outros povos europeus. Facto que os israelitas exploram até à exaustão, acusando de anti-semita e seguidor de Hitler quem se atreva a contestar a sua política. Do mesmo modo, na guerra entre israelitas e árabes o ocidente sente-se naturalmente mais perto dos judeus que partilham uma mesma cultura, tanto mais que as sociedades muçulmanas não têm parado de regredir, tanto nas questões de civilização, como é o caso do tratamento das mulheres, quanto no despotismo político e ultimamente no crescente fanatismo religioso e recurso sistemático ao terrorismo.

E no entanto a política de sistemático uso excessivo da força é um fracasso. Desde logo para os próprios. Os israelitas são hoje o povo mais odiado do planeta. E os judeus voltam a ser olhados com desconfiança, desprezo e hostilidade, numa escala que varia conforme as regiões do planeta. Para além desta aversão global, os israelitas também não estão melhor na sua terra do que há cinquenta anos atrás. Vivem num terror permanente e nem sequer conseguiram consolidar o país que continua sob a ameaça de extinção. E, acima de tudo, a sua acção tem servido para radicalizar o inimigo e alimentar um cada vez maior exército de fanáticos dispostos a tudo, até o último sacrifício como se sabe.

A cumplicidade da Europa para com os crimes de Israel também não é inteligente. E é o mínimo que se pode dizer, já que a vergonha é íntima. O conflito já alastrou e hoje a sangrenta disputa israelo-palestiniana atinge as principais capitais europeias, de que os atentados recentes de Londres e Madrid são um exemplo, mas infelizmente só uma primeira amostra. A Europa sabe que não se pode combater o terrorismo com o terrorismo, como faz Israel. E que as consequências dessas políticas conduzem aos maiores desastres.

A cumplicidade da Europa para com um Israel fora da lei, só tem contribuído para aumentar o terrorismo islâmico e radicalizado os próprios palestinianos. Mas também para colocar em perigo os seus próprios cidadãos, apanhados no meio de uma guerra particularmente suja que não é sua e onde se utilizam métodos, de parte a parte, absolutamente intoleráveis. A Europa está a jogar um jogo muito perigoso dando cobertura à loucura israelita. Vamos todos pagar muito caro por isso.

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