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21 de Abril de 2003 às 12:59

Um desafio,…uma paixão

Durante os alguns anos, para não dizer muitos, que tenho vivido nesta profissão, sempre ouvi dizer que o consultor era como o padre, tem sempre lugar para desenvolver a sua actividade.

Por Helena Araújo, Deloitte Consulting

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Durante os alguns anos, para não dizer muitos, que tenho vivido nesta profissão, sempre ouvi dizer que o consultor era como o padre, tem sempre lugar para desenvolver a sua actividade. Quando há nascimentos, o padre baptiza; nos casamentos, casa; na doença, benze; e, na morte, enterra. Como é fácil de entender, é uma profissão que nunca corre o risco de morrer. Será verdade?

Em face aos tempos conturbados que a actividade da consultoria tem vivido, optei por partilhar convosco a minha visão sobre a mesma. Efectivamente, já passei nesta profissão vários ciclos económicos de recessão e expansão, mas nunca um período em que todos os factores jogam em simultâneo num mesmo sentido: recessão económica, o caso Enron e similares, a necessidade de separação das práticas de auditoria, …tudo joga no sentido de restringir as oportunidades e a dimensão do mercado. Face a tudo isto, o mercado está confuso e, por essa razão, os desafios são mais e maiores.

Apesar de tudo, a consultoria mantém-se fiel aos seus três grandes pilares: aos clientes que serve, aos profissionais que a compõem e aos serviços que disponibiliza. Mas será que estes, na sua essência, se alteraram?

Efectivamente, os clientes são cada vez mais exigentes com o tipo de serviços que lhes oferecemos. Esperam que lhes apresentemos ideias inovadoras, com soluções tecnológicas de vanguarda que lhes permitam assegurar e manter a liderança nos mercados onde operam. Adicionalmente, esperam que os lideremos na implementação desta ideias em prazos cada vez mais curtos e que com eles partilhemos os riscos inerentes. Como será fácil de entender, mesmo para um leigo, este pacote vale muito dinheiro e acarreta muitos riscos, pois a transformação dos negócios traz benefícios claros mas acarreta também dificuldades, obrigando à adopção de medidas acertadas de gestão da mudança.

Uma maior exigência na qualidade dos nossos serviços, um maior compromisso da nossa parte na partilha do risco, tem sido a tendência a que nos têm sujeito os nossos clientes. Em troca, estes nem sempre entendem e valorizam a necessidade de incorporar um conjunto de valências que vão desde as componentes técnicas de implementação das soluções que preconizamos, como a necessidade absoluta de um reforço nas capacidades de gestão de projectos e conhecimento do negócio em que actuamos e a inclusão de competências de comunicação e gestão da mudança tão necessárias para afastar as forças do insucesso. Os clientes estão disponíveis para pagar os nossos honorários, que serão sempre de valor inferior ao dos proveitos de que irão beneficiar, para terem uma implementação “chave na mão” no prazo que solicitaram.

E é justamente aqui que reside a satisfação do “dever cumprido” do consultor: quando vê uma solução implementada e um cliente, que acreditou numa solução e numa equipa, a retirar os benefícios do seu investimento. Mas serão estes os clientes de amanhã?

Outro dos pilares a que me referi, são os profissionais que se constituem como a alma das empresas que actuam neste sector de actividade. Efectivamente, este é o pilar sobre o qual os desafios da actividade mais têm pesado nos últimos anos. A carreira de consultor sempre foi aliciante para aqueles que a ela aderiam: diversidade, inovação, formação, carreira rápida e, após alguns/poucos anos, ordenados acima da média do mercado. Obviamente que havia a outra face, exigência, disponibilidade, espírito de sacrifício e uma cultura hierárquica herdada da actividade de auditoria que lhe deu origem. Tudo isto, colocado numa balança de decisão de um jovem recém-licenciado e disponível, não apresenta quaisquer dúvidas. E as empresas souberam aproveitar-se disto, pois souberam escolher os melhores e os que maior capacidade teriam para aprender, crescer e construir. Hoje, esse desafio é ainda maior pois as componentes de natureza material a que aludi tendem a desaparecer num mercado em recessão, ao mesmo tempo que a exigência sobre as características imateriais e éticas tendem a ser cada vez maiores.

O apelo ao profissionalismo, honestidade, transparência, trabalho em equipa, espírito de sacrifício, inovação, desafio, entre outros, é cada vez mais uma realidade com que se deparam os nossos profissionais, o que faz deles pedras preciosas na actividade que desenvolvemos. Em contrapartida, a prova de que vale a pena o esforço tem de ser encontrada por cada um em cada dia de trabalho. Será que estes profissionais encontrarão dia a dia a motivação para continuar?

O terceiro pilar de que vos falei é a oferta de serviços que o sector tem para disponibilizar ao mercado. Efectivamente, estamos a viver um período de transição em que não basta definir a estratégia, desenhar os processos ou mesmo implementar determinada tecnologia. Hoje é obrigatório saber combinar estas três componentes e às mesmas adicionar ainda uma grande dose de inovação e de capacidade de gestão da mudança.

Saber mobilizar recursos, gerir competências e motivar pessoas é o nosso dia-a-dia. Provar que somos capazes de fazer tudo isto, construir uma empresa a partir do nada e em escassos meses pô-la a operar e, acima de tudo, a facturar é hoje a nossa riqueza e os clientes sabem-no. Mas qual será a nossa oferta de serviços amanhã?

Penso que nem eu nem ninguém é capaz de dizer como será a consultoria no médio prazo. Com o apogeu do e-business, empresas houve que se posicionaram para servir os novos clientes com competências e soluções específicas, mas foi uma fase. O segredo, acredito, está na resposta às três questões que coloquei: Quais as necessidades e exigências dos clientes de amanhã? Quais as motivações dos consultores? e, quais as soluções que serão disponibilizadas ao mercado?

Apesar de não saber responder a estas questões, penso que esta actividade será sempre apaixonante e exigente. Vamos ter projectos cada vez mais complexos para desenvolver, e a nossa maior satisfação será sempre a de ver as coisas implementadas e a funcionar como um dia nós as antevimos.

Em conclusão, podendo dizer-se que esta actividade nunca mais será, uma coisa é certa: será sempre um desafio apaixonante!

Helena Araújo

Senior Manager

haraujo@dc.com

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