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Carlos Horta e Costa é presidente dos CTT. Miguel Horta e Costa é presidente da PT. Não há problema algum nisso. Nem sequer se colocam reservas de princípio a qualquer contrato celebrado entre os dois grupos, apenas e só pelo facto de existir um forte gra

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Carlos Horta e Costa é presidente dos CTT. Miguel Horta e Costa é presidente da PT. Não há problema algum nisso.

Nem sequer se colocam reservas de princípio a qualquer contrato celebrado entre os dois grupos, apenas e só pelo facto de existir um forte grau de parentesco entre os seus principais gestores.

Tudo certo, portanto, quando os CTT anunciam ontem que cederam à PT a gestão de toda a sua infra-estrutura para os próximos dez anos.

Não, tudo errado. Aliás, é profundamente chocante. Repito, para que fique bem claro: nada tem a ver com o facto de os dois gestores serem primos, compadres ou amigos.

Fossem até desconhecidos e a gravidade desta situação era exacta e rigorosamente a mesma. O que é que este acordo entre os CTT e a PT tem então de censurável?

Que tipo de perplexidades levanta? E que espécie de dúvidas suscita - dúvidas que os dois Horta e Costa não quiseram ontem esclarecer.

Os CTT não divulgam os valores que estão envolvidos na transacção. Não revelam parte essencial de um contrato que, queira-se ou não, amarra parte essencial da evolução dos correios na próxima década.

Censurável é o método adoptado. À socapa. Terá sido realizada uma consulta limitada a alguns operadores. Mas com assimetria de informação, suspeitas de favorecimentos à mistura.

Perplexidade é o que este compromisso sério pode representar para os CTT, para o sector e até para o país. Para os CTT, obviamente que isto não inviabiliza a mais que necessária e justificada privatização.

Mas, com a infra-estrutura de comunicações hipotecada por dez anos, com mais um «outsourcing» de cinco anos da infra-estrutura de wi-fi - e sendo ambos os contratos realizados com a mesma PT - será mais a PT e menos o Estado português a condicionar os termos dessa privatização.

Para o sector, este contrato tem consequências óbvias e igualmente importantes. Se a liberalização das telecomunicações já era uma quase-fantasia, se o predomínio do incumbente é inquestionável, ao tomar o controlo desta gigantesca infra-estrutura dos correios, a PT deixa ainda menos espaço de manobra aos seus desgraçados pseudo-concorrentes.

Finalmente, como nem tudo o que é bom para a PT é bom para o país, o que é que resulta efectivamente para o consumidor final? Uma rede de comunicações mais moderna nos CTT? Certamente.

Correios tecnologicamente mais habilitados a reagir à liberalização e à decadência da carta em papel? Com certeza.

Se já era insólito ver a PT como proprietária das duas principais redes de acesso, o cobre e o cabo. Se já era grave que a PT, além dessa função de grossista, fosse também a principal retalhista.

O que dizer agora, ao vê-la apropriar-se da gigantesca infra-estrutura dos correios? E, com ela, ganhar vantagem na corrida ao wi-max (wi-fi em escala ampliada)?

O doutor Abel Mateus vai ter mais que fazer...

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