Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
09 de Novembro de 2009 às 12:00

São só rosas, senhor?

Há algum tempo descobriu-se uma versão da Carochinha do célebre milagre das rosas. Do regaço dos dirigentes do futebol não saíam rosas, mas SADs. Elas pareciam ser a solução para todos os pecados do futebol indígena. Alguns clubes foram mesmo para a bolsa...

  • ...
Há algum tempo descobriu-se uma versão da Carochinha do célebre milagre das rosas. Do regaço dos dirigentes do futebol não saíam rosas, mas SADs. Elas pareciam ser a solução para todos os pecados do futebol indígena. Alguns clubes foram mesmo para a bolsa, numa grande manifestação exaltada de capitalismo popular. Tantos anos depois, e olhando apenas para os três grandes, das rosas sobraram espinhos. Coisa pouca, porque ninguém parece estar disposto a picar-se neles. Mas é tempo de deixar de acreditar que o futebol é uma indústria de sucesso.

Talvez possa ser, mas não da forma bacoca como é vendida aos crédulos. Dificilmente algum clube de futebol terá lucros. A fantasia de que poderá ser um negócio como os outros já foi abandonada por quem olha com atenção para o fenómeno. A maior dívida tem origem nos salários dos jogadores e as vendas destes são sorvidas no buraco negro das dívidas. Não se pense que o problema é deste sítio: os clubes da "Premier League" devem, no conjunto, 3,3 mil milhões de euros. Alguém no seu perfeito juízo acredita que, um dia, darão lucro ou que pagarão a dívida? Para idealista já basta o sr. Florentino Pérez. Os clubes que lutam para ganhar campeonatos e jogar na Liga dos Campeões nunca terão lucros. Para ganhar é preciso construir equipas com os melhores jogadores: só excepcionalmente equipas com jogadores baratos ganham alguma coisa. Há também a versão psicanalítica: mesmo endividados até à medula, ninguém acredita que Benfica, Sporting e FC Porto irão algum dia à falência. Se for preciso o Estado nacionaliza o Benfica, o FC Porto ou o Sporting. Com mais suor despejou um contentor de dinheiro no BPN. Mas qualquer destes clubes, se fosse à falência, renasceria no dia seguinte com um nome parecido e com os mesmos milhões de adeptos. Os clubes estão sempre com um pé na falência, mas têm sete vidas. Não vão à falência porque nenhum detentor de créditos vai accioná-los. Nem o Fisco nem os bancos avançarão contra estas marcas poderosas. O futebol não é um poço de petróleo nem a Rede Eléctrica Nacional, mas movimenta emocionalmente milhões de pessoas. Sobreviverão a todos os tsunamis económicos ou políticos. Aí está a diferença entre este Benfica e este Sporting: o clube do sr. Filipe Vieira sabe que nunca irá à falência porque é uma marca global e por isso não se preocupa com a dívida desde que o clube ganhe jogos; o sr. Bettencourt acredita ingenuamente que a SAD do seu clube é uma empresa normal, não contrata jogadores e por isso entrou em depressão. Antigamente os clubes tinham mecenas. Hoje têm SADs. Os dilemas e as respostas continuam a ser as mesmas.
Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio