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Route 128 em Boston, A5 em Oeiras

Li, recentemente, um artigo muito interessante sobre a Route 128 em Boston, e Silicon Valley em Palo Alto, que trata as origens destas regiões de desenvolvimento económico e empresarial suportado no conhecimento e na tecnologia, as suas semelhanças e diferenças e o seu potencial de crescimento no futuro próximo.

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A metodologia seguida neste artigo permite a análise comparada destas duas regiões com "Oeiras Valley" , um conceito recente, mas em clara implantação no nosso país e uma análise prospectiva desta última região.

No caso da Route 128 e Silicon Valley, as principais semelhanças situam-se no âmbito das seguintes variáveis:
• Ambas se iniciaram nos anos 50, tiveram um crescimento acelerado e suportaram o seu desenvolvimento empresarial, essencialmente, em empresas de alta tecnologia da área das TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação.
• O desenvolvimento ocorrido foi um desenvolvimento sistémico, integrando Universidades e Empresas de alta tecnologia.
• Em ambas as situações o conhecimento foi garantido por duas Universidades de 1ª linha, de grande prestigio e qualidade académica, o MIT - Massachusetts Institute of Technology, em Boston e a Universidade de Stanford, em Palo Alto.
• Existiu uma empresa ou projecto de referência em cada um dos casos, que funcionou como elemento dinamizador e difusor de outras empresas na mesma área tecnológica, Xerox, em Boston, Hewlett-Packard, em Palo Alto.
• Criou-se um meio envolvente propício ao desenvolvimento de novas empresas, com capitais de risco, empresas de marketing e outras entidades de suporte.
• A qualidade e o pioneirismo de vários projectos, protagonizados por empresas de referência, como a IBM, Microsoft, Intel, … criaram uma notoriedade crescente para estas regiões.

Esta notoriedade foi sendo constatada e referenciada para cada uma desta duas regiões de desenvolvimento tendo sido apelidadas de "semicírculo mágico" e de "milagre de Massachusetts" para a Route 128 e de "vale do sonho" e "o maior parque de ciência" para Silicon Valley.

Mas há algumas diferenças significativas entre estas duas regiões:
• Silicon Valley tem uma rede mais alargada, complementar e com um ajustamento mais flexível de empresas enquanto que Boston tem um número menor de empresas, integradas verticalmente e a funcionar menos em rede aberta.
• O desenvolvimento de Silicon Valley foi suportado, dum modo mais intensivo no parque de Ciência e Tecnologia construído em torno da Universidade de Stanford.
• O MIT tem uma maior focagem na investigação científica enquanto que a Universidade de Stanford privilegia a investigação aplicada dirigida à comunidade empresarial de Silicon Valley.

A evolução recente tem passado pelo contacto estreito entre estes dois tecnopólos, aproveitando o conhecimento e desenvolvimento científico e tecnológico produzido por ambas as Universidades.

A A5, na região de Oeiras, tem semelhanças com a Route 128 em Boston:
• Os seus parques empresarias - Quinta da Fonte, Lagoas Park, Arquiparque, Parque Suécia e Taguspark desenvolveram-se dos dois lados da estrada, assim como outras empresas de produção de serviços de alto valor acrescentado.
• Uma Universidade de referência, o Instituto Superior Técnico, constituiu-se como suporte de uma parte significativa do conhecimento necessário ao desenvolvimento tecnológico destas unidades.
• Um grande número de empresas situa-se no âmbito das TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação.
• O Parque Tecnológico - Taguspark, representa uma unidade essencial ao desenvolvimento e consolidação de "Oeiras Valley".

Mas esta região de desenvolvimento, construída em Oeiras, em torno da A5, contém um conjunto de limitações e constrangimentos para o seu desenvolvimento futuro que é necessário ultrapassar:
• A base universitária é muito mais frágil do que a que suporta as duas regiões americanas com as quais nos queremos comparar.
• O Taguspark não tem a pujança e notoriedade que devia ter em termos de equivalência ao parque de ciência e tecnologia de Palo Alto.
• As empresas de referência de "Oeiras Valley" são predominantemente multinacionais, com um grande défice na atracção das empresas nacionais de referência.
• A utilização empresarial do conhecimento criado nos Institutos de Investigação de Oeiras, nomeadamente nos da área de Biotecnologia, é muito ineficiente por força do funcionamento deficiente dos respectivos centros de incubação.
• As unidades de suporte ao empreendedorismo de base tecnológica em Oeiras, nomeadamente as sociedades de capital de risco, é muito incipiente.

Estas reflexões permitem-nos ter uma noção do muito que temos para fazer para que "Oeiras Valley" possa um dia vir a ser apelidado do "milagre português". E do trabalho, perseverança e rigor que vai ser exigido a todos os intervenientes, académicos e empresariais, desta região, com especial relevo para a AITECOEIRAS - Agência de Desenvolvimento de "Oeiras Valley", para que este "vale do sonho" português possa vir a ser uma realidade.


Professor Associado Convidado do ISCTE
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