Opinião
Resistir é uma forma de combater
A mentira, a evasiva, a ambiguidade tornaram-se vulgaridades no discurso político.
A mentira, a evasiva, a ambiguidade tornaram-se vulgaridades no discurso político. O primeiro-ministro diz que não vai haver mais austeridade, no caso de. O ministro Gaspar assevera que austeridade nem pensar, a não ser que. A falta de clareza, a esquiva, a meia-palavra. Todos sabemos que uma nova dose de desgraça vai ser aplicada à população portuguesa. Se a democracia é o governo do povo pelo povo e para o povo, esta não passa de um equívoco. O governo actual possui uma mesma entidade orgânica e todos os seus membros são responsáveis por uma política de subserviência e de desrespeito pelas regras mais elementares de ética e de civilidade. Há uma dimensão totalitária que já não escapa. O poder informe do executivo caracteriza-se pela obediência cega aos ditames que provêm de fora.
Chega a ser indecoroso as maneiras subalternas e mesureiras com que Pedro Passos Coelho ciranda em redor da senhora Merkel. Diz um amigo meu: "Ainda se ela fosse uma estampa de mulher…". Não desejo entrar em pormenores desta natureza, mas lá que o meu amigo tem razão, lá isso. Não tenhamos dúvida de que o projecto ideológico dos alemães comporta algo de imperial. E essa grande rábula de que é aquele povo que sustenta a Europa, em especial os grandes madraços do sul, é uma arquitectura político-económica destinada a enganar papalvos.
A Alemanha - como já, neste jornal e em outros, a manobra tem sido divulgada - precisa deste movimento circular para fazer escoar os seus produtos. Somos-lhe devedores de quê?
As nossas dificuldades acentuam-se à medida que o mal-estar europeu determina a resistência ao projecto germânico. Angela Merkel e os seus conselheiros ocultos apercebem-se do enredo que teceram, e a oposição a toda e qualquer proposta que vise a mais leve emancipação encontra, obviamente, um tenaz antagonismo alemão. Como se tem verificado nas últimas semanas. O pobre Durão Barroso parece uma mosca tonta, apanhada na teia da grande aranha. É penoso assistir ao seu comportamento, sobretudo quando sustentado pelos seus discursos.
A verdade é que o persistente cerco que nos é feito e à Europa chega a ser sufocante. A subida de Hollande ao poder permitiu um ligeiro alívio, mas não se me afigura que os socialistas franceses escapem às regras que explicam, mas não justificam, a estratégia global dos PS. Por cá, as coisas são o que são. O descrédito do PSD não é acompanhado por uma acção política séria e duradoura do PS de António José Seguro. O próprio Mário Soares, em intervenções várias, não oculta as suas preocupações. A "neutralidade" dos socialistas causa embaraço nas suas próprias fileiras, e Seguro não é tomado muito a sério na bancada rosa.
O assunto tornou-se tão grave que os patrões manifestam-se contra esta austeridade. E João Salgueiro, há dias, afirmou que assim não vamos lá. Apesar da importância do que disse, Salgueiro manteve aquele ar displicente e levemente distante que o distingue. O Dr. Cavaco, notoriamente apoiante destas políticas pelo menos suicidárias, é apupado em todos os sítios aonde se desloca, e, depois, aprova diplomas celerados, e declama a necessidade de "coesão nacional." O Dr. Cavaco, que soube ser o pior Presidente da República que temos tido, e nisso emparelha com o inesquecível Américo Tomás, qualifica-se como cúmplice desta miséria. A popularidade do senhor atingiu os níveis mais baixos, mas ele continua, impávido e gélido, a jornada de terror que nos impõe.
A fractura social é uma evidência e uma barbaridade. O país está de rastos em todos os sectores. O empobrecimento, como arma ideológica e declarada de Passos Coelho, é a denegação da ideia democrática. Ele e os seus apaniguados não se importam. As declarações flutuantes que ele e o ministro Gaspar proferiram, acerca da "austeridade" já não causam apenas medo: provocam náuseas.
Não sei, creio que ninguém sabe, quando isto vai parar. Há uma falta de referências não apenas éticas, mas sobretudo da razão, que nos causa sobressalto. Estamos, como se sabe, sob a direcção de pró-cônsules, os quais, como assinalou Mário Soares, "vêm cá apenas buscar o seu dinheirinho." Desconhecem o que somos, a nossa história, a nossa cultura e a índole dos nossos próprios sentimentos. Aplicam a regra e soletram o breviário neoliberal, que nivela tudo por baixo. O PSD dá-se por muito satisfeito. O PCP e o Bloco opõem-se e protestam com as forças de que dispõem. O PS anda por aí… Apesar de tudo é preciso dizer não. Nunca o esqueçamos, "há sempre alguém que resiste." E há muitos.
b.bastos@netcabo.pt
Chega a ser indecoroso as maneiras subalternas e mesureiras com que Pedro Passos Coelho ciranda em redor da senhora Merkel. Diz um amigo meu: "Ainda se ela fosse uma estampa de mulher…". Não desejo entrar em pormenores desta natureza, mas lá que o meu amigo tem razão, lá isso. Não tenhamos dúvida de que o projecto ideológico dos alemães comporta algo de imperial. E essa grande rábula de que é aquele povo que sustenta a Europa, em especial os grandes madraços do sul, é uma arquitectura político-económica destinada a enganar papalvos.
A Alemanha - como já, neste jornal e em outros, a manobra tem sido divulgada - precisa deste movimento circular para fazer escoar os seus produtos. Somos-lhe devedores de quê?
A verdade é que o persistente cerco que nos é feito e à Europa chega a ser sufocante. A subida de Hollande ao poder permitiu um ligeiro alívio, mas não se me afigura que os socialistas franceses escapem às regras que explicam, mas não justificam, a estratégia global dos PS. Por cá, as coisas são o que são. O descrédito do PSD não é acompanhado por uma acção política séria e duradoura do PS de António José Seguro. O próprio Mário Soares, em intervenções várias, não oculta as suas preocupações. A "neutralidade" dos socialistas causa embaraço nas suas próprias fileiras, e Seguro não é tomado muito a sério na bancada rosa.
O assunto tornou-se tão grave que os patrões manifestam-se contra esta austeridade. E João Salgueiro, há dias, afirmou que assim não vamos lá. Apesar da importância do que disse, Salgueiro manteve aquele ar displicente e levemente distante que o distingue. O Dr. Cavaco, notoriamente apoiante destas políticas pelo menos suicidárias, é apupado em todos os sítios aonde se desloca, e, depois, aprova diplomas celerados, e declama a necessidade de "coesão nacional." O Dr. Cavaco, que soube ser o pior Presidente da República que temos tido, e nisso emparelha com o inesquecível Américo Tomás, qualifica-se como cúmplice desta miséria. A popularidade do senhor atingiu os níveis mais baixos, mas ele continua, impávido e gélido, a jornada de terror que nos impõe.
A fractura social é uma evidência e uma barbaridade. O país está de rastos em todos os sectores. O empobrecimento, como arma ideológica e declarada de Passos Coelho, é a denegação da ideia democrática. Ele e os seus apaniguados não se importam. As declarações flutuantes que ele e o ministro Gaspar proferiram, acerca da "austeridade" já não causam apenas medo: provocam náuseas.
Não sei, creio que ninguém sabe, quando isto vai parar. Há uma falta de referências não apenas éticas, mas sobretudo da razão, que nos causa sobressalto. Estamos, como se sabe, sob a direcção de pró-cônsules, os quais, como assinalou Mário Soares, "vêm cá apenas buscar o seu dinheirinho." Desconhecem o que somos, a nossa história, a nossa cultura e a índole dos nossos próprios sentimentos. Aplicam a regra e soletram o breviário neoliberal, que nivela tudo por baixo. O PSD dá-se por muito satisfeito. O PCP e o Bloco opõem-se e protestam com as forças de que dispõem. O PS anda por aí… Apesar de tudo é preciso dizer não. Nunca o esqueçamos, "há sempre alguém que resiste." E há muitos.
b.bastos@netcabo.pt
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