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22 de Março de 2012 às 23:30

Quase a meio da ponte!

Mal comparado e com a devida vénia a ambos, Vítor Gaspar está para o Governo como Messi está para o Barcelona. De ambos se espera o toque de magia.

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"Há indícios de boas notícias na economia mundial: nos EUA, as empresas empregam mais gente e os consumidores gastam mais... e a recessão na Zona Euro é, afinal, mais suave do que se esperava."

Quem o escreve é o "Economist" do passado dia 17 de Março.

E, continua: "graças à enorme injecção de liquidez no sistema bancário, promovida pelo BCE sob a nova gestão de Mario Draghi, tudo indica que se terá evitado o colapso financeiro e um desagradável ‘credit crunch’." Para concluir: "os países europeus têm de deixar de se focar tão intensamente na austeridade e, em vez disso, fazer mais pelo crescimento."

O ministro da Finanças, numa entrevista a Maria João Avilez publicada no "Diário Económico", afirmou que "estamos a aproximar-nos do meio da ponte" e que o "ajustamento será mais rápido e mais bem-sucedido do que o previsto no programa".

O primeiro-ministro confirmou que em Setembro regressaremos aos mercados.

John Authers, leitura quase obrigatória no "Financial Times", esteve em Lisboa a explicar que as bolsas mundiais, nos próximos tempos, nem "bull" nem "bear", antes "crab"; e na redacção aberta do Jornal de Negócios disse que "não podemos evitar uma economia verdadeiramente horrível durante muitos anos!".

Uma equipa de "research" de uma das mais conceituadas casas de investimento internacionais chegou à conclusão de que Portugal, de entre o que se convencionou chamar de países periféricos, é aquele que mais terá de diminuir os seus preços relativos para conseguir o ajustamento das suas contas externas e o crescimento sustentado: 35% no caso português, menos de 30% na Grécia, menos de 20% em Espanha e 10% a 15% na Itália. A Irlanda já teria realizado todo o ajustamento relativo.

Verificados alguns pressupostos que foram introduzidos no modelo (como inflação, elasticidade da procura e a reapreciação relativa dos preços nas economias europeias fortes, designadamente a Alemã), a conclusão dos autores do estudo é a de que esse ajustamento tardará "15 anos em Portugal e na Grécia, 10 anos em Espanha e 5 a 10 anos em Itália".

O Governo português está confiante de que a nossa balança comercial será superavitária no curto prazo. Por esse motivo, pelo facto de a implementação do plano de austeridade estar gradualmente a restituir a credibilidade e confiança na economia e nas finanças de Portugal e pela produção dos primeiros efeitos das reformas estruturais, haverá razões para um prudente optimismo.

Contudo, os últimos dados conhecidos sobre a execução orçamental de Janeiro e Fevereiro são, por alguns, classificados como preocupantes: a receita, designadamente proveniente do IVA, está muito abaixo da previsão anual (parece que os efeitos da alteração deste imposto só se começarão a sentir no 2.º trimestre) e a despesa não se contraiu como previsto (alegadamente por causa de despesas extraordinárias que não se repetirão).

Não é surpresa para ninguém que uma economia em recessão gera menos receita fiscal e que o aumento da carga fiscal só agrava o círculo vicioso. Longe está o dia em que os residentes em Portugal receberão as boas notícias de relativo alívio fiscal que estão a ser dadas, agora, aos residentes no Reino Unido e nos EUA!

Entretanto, aqui mesmo ao lado, o primeiro-ministro Espanhol fez a Bruxelas um "two finger salute" (como escrevia o "Economist" de 10 de Março), comunicando a quem lá manda que, gostassem ou não, o objectivo do défice para 2012 seria de 5,8%, e não 4,4%, porque a economia espanhola não aguentaria um ajustamento de 45 mil milhões de euros. Surpreendentemente, esta rebeldia não provocou reacções, nem em Berlim, nem nos mercados, nem nas agências de "rating". A dívida pública espanhola foi mais procurada e a juros mais baixos. Que inveja!

O que conheço do ministro da Finanças é o que lhe ouço em intervenções públicas e o que leio do que escrevem os que o conhecem e os que julgam conhecê-lo. Confesso que é difícil não simpatizar e confiar nele: é sério, rigoroso, contido, discreto, competente, trabalhador e tem sentido de humor.

Além disso, tem um Governo inteiro a trabalhar para o seu programa e dependente da sua performance. Mal comparado e com a devida vénia a ambos, Vítor Gaspar está para o Governo como Messi está para o Barcelona. De ambos se espera o toque de magia.

Se afirma, de forma tão assertiva, que estamos a chegar a meio da ponte (a da Arrábida, e não a Vasco da Gama, esperemos), dá a entender que em breve conheceremos notícias animadoras e que não solicitaremos qualquer pacote adicional de ajuda financeira é porque está na posse de dados que desmentem ou infirmam as profecias da desgraça. Venham elas!



Advogado
mcb@mcb.com.pt
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