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13 de Janeiro de 2006 às 13:59

Portugueses admiráveis

Durante os últimos trinta anos, o PSD e o PS estiveram sempre, directa ou indirectamente, no poder e no governo. São responsáveis da depressão ciclónica acumulada ao longo de décadas, desencadeando gravíssima crise na sociedade.

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O ministro Teixeira dos Santos afirmou que, dentro de dez anos, caso a Segurança Social não seja «modernizada», não haverá dinheiro para assegurar as reformas. A notícia não o é porque de novo nada traz. Porém, o tom apocalíptico e a voz pesada e grave do preopinante fizeram estremecer de horror os que assistiram ao programa Prós e Contras, na RTP, da excelente Fátima Campos Ferreira.

Nenhuma decisão decente foi até agora tomada. Para salvação futura aponta-se o mais simples: Planos de Poupança Reforma. Como chegámos a esta situação de ruptura? As explicações são coxas. Indicar, quase que exclusivamente, para o envelhecimento populacional, carece de sustentação. As desastrosas políticas económicas e empresariais atiram para o desemprego milhares e milhares de pessoas. Não se registam iniciativas para se regenerar o tecido social e a vida cívica. Insiste-se na «competitividade» e não se proporcionam métodos e estímulos ao mundo do trabalho.

Durante os últimos trinta anos, o PSD e o PS estiveram sempre, directa ou indirectamente,  no poder e no governo. São responsáveis da depressão ciclónica acumulada ao longo de décadas, desencadeando gravíssima crise na sociedade. São centenas as empresas que não cumpriram os compromissos assumidos com a Previdência. As falências fraudulentas atingiram índices inquietantes, quase sistematizando a inércia ultrajante da Justiça Adicione-se a fuga ao fisco. A par de vultosos estipêndios a «gestores», a miséria dos salários e das reformas a trabalhadores tornou as comparações obscenas.

Um exemplo, entre muitos, é-me enviado por e-mail. Assim: Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, ganha mais do que Alan Greespan, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos. Constâncio, ameno socialista, veio a público (ele também!) proclamar a necessidade de fazermos sacrifícios. Além das mordomias, Constâncio ganha, anualmente, 272.628 euros, ou seja: 3.894 contos mensais, catorze meses/ano!

Os ordenados anuais dos outros membros do Conselho de Administração do Banco de Portugal são, igualmente, de monta: António Pereira Marta, 244.174 euros; José Martins de Matos, 237.198; José Silveira Godinho, 273.700; Vítor Rodrigues Pessoa, 276.983; Manuel Ramos Sebastião, 227.233.

António Marta acumula o salário com a pensão de reformado do? Banco de Portugal. Desconhece-se, até agora, o valor dessa pensão. Vítor Pessoa também possui reforma adicional de 39.101 euros/ano; total: 316.084 euros/ano. Similarmente, Silveira Godinho adiciona ao que aufere uma pensão de 139.550 euros/ano, o que dá uma soma anual de 413.250 euros/ano. Ao todo estes admiráveis portugueses recebem, todos os anos, 1. 531.916 euros!

A exigência de limpidez e de clareza condiz com uma política de civilização, que não seja flutuante entre a versão fornecida pelos «políticos» e a mecânica discursiva dos «gestores», pautada por interesses pessoais. Pode requerer--se um comportamento altruísta àqueles que, desde sempre, se sacrificam, enquanto outros nada dão e de tudo e de todos beneficiam?

APOSTILA 1 – Dilecto: chamo-lhe a atenção para o notável artigo de Mário Mesquita, professor universitário, inserto no «Público» de 8 de Janeiro, p.p.. O título: «Grândola Vila Amarela». Um excerto: «Quando liguei o televisor, já o telejornal ia avançado, em pleno ‘bloco’ de notícias sobre as presidenciais. Comício em Grândola, de apoio ao candidato da direita e do centro-direita. Entoava-se, em coro, a canção ‘Grândola vila morena’. Alucinação? Não era. O candidato Cavaco Silva, envolvido no canto colectivo, ostentava o seu famoso sorriso amarelo (?) Para conquistar o centro-esquerda vale bem a pena trautear uma canção de José Afonso, mesmo que tal coro tenha, nalguns sectores, sabor a blasfémia. Blasfémia de religião-política, claro. Grândola integra o imaginário do 25 de Abril, da esquerda e, muito em especial, dos comunistas. Valerá a pena ir tão longe? Obrigar Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa a lembrar a pensão recusada, pelo governo de Cavaco Silva, a Salgueiro Maia, ao mesmo tempo que o Estado recompensava os bons serviços de agentes da PIDE? A eficácia justifica a hipocrisia?»

APOSTILA 2 – Mão amiga recuperou, e enviou-me, estas frases letais, proferidas por Marcelo Rebelo de Sousa, em 26 de Maio de 1995: «Posso provar que sou isento: nunca ninguém, mesmo da oposição, foi capaz de dizer o que eu disse e repito: a incultura de Cavaco Silva, política e não só, é abismal  –  e o seu triunfo foi o da vulgaridade. Vejam lá se algum comentador teve a coragem de dizer isto?»

Não consta que o professor seja comunista, socialista, trotsquista, maoísta, bloquista. Mas nunca se sabe?

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