Opinião
Por uma estratégia de recuperação económica: “Quo vadis, Europa?”
A crise económica que se avizinha, resultante da pandémica covid-19 será, provavelmente, para a Europa, o mais duro desafio do pós-II Guerra Mundial.
A crise económica que se avizinha, resultante da pandémica covid-19 será, provavelmente, para a Europa, o mais duro desafio do pós-II Guerra Mundial. Quanto mais não fora por esta razão, a adjetivação desta pandemia como "guerra" não é exagerada. E como "guerra" deve ser encarada. No seio da UE, o debate político está concentrado, e bem, na definição de políticas e instrumentos que, nas esferas financeira, económica, monetária e orçamental irão suportar os custos da crise e promover o relançamento da economia.
Não obstante a relevância crucial de que se revestirá esse desenho político da futura alavancagem económica da Europa, há uma responsabilidade que impende sobre todos os atores: identificar as oportunidades. Qualquer grande crise traz, sempre, excecionais oportunidades. De mudança. De crescimento.
Nos mundos empresarial e financeiro, de onde brota o investimento, a afetação de recursos ainda continua centrada, quase em exclusivo, na mitigação dos efeitos da crise: segurança de pessoas; monitorização detalhada dos dados económico-financeiros; análise do fluxo de informação e decisão (quase) em "tempo real".
Sem embargo disso, as declarações políticas, aos diferentes níveis, são já demonstradoras de que os esforços empresariais e financeiros, a par dos políticos, carecem de recentramento. Não descurando a gestão tática da "guerra", há que prospetar estrategicamente o futuro.
A "recuperação económica" na Europa, que será indubitavelmente uma faina herculeana, terá maiores probabilidades de sucesso se concebida à luz dos vetustos princípios de Von Clausewitz: objetivo; ofensiva; massa; economia de forças; manobra; unidade de comando; segurança; surpresa; simplicidade. Neste quadro, uma estratégia de retoma com sucesso dependerá de:
- Um objetivo de médio-longo prazo para a recuperação económica que seja claro e distinto;
- Uma ofensiva financeira, económica, monetária e orçamental disruptiva e sem hesitações;
- Ação imediata, concentrando a "massa" económico-financeira no objetivo estabelecido;
- Não ocorrerem desutilidades com objetivos menores;
- Firmeza na evitação da estagnação da economia a curto prazo (seja a que custo for);
- Liderança e coesão na UE, longe de querelas fúteis;
- Medidas de superação das vulnerabilidades europeias (e.g. na energia, tecnologia, indústria);
- Uma alavancagem económica sem precedentes, alicerçada no fator surpresa;
- Um quadro simples e de fácil apreensão para os atores políticos, económicos e financeiros.
Falamos de uma economia sustentável, soberana e para os europeus, impulsionando a iniciativa por caminhos de futuro. Uma economia de cariz multilateral, mas sem hesitações geopolíticas e capaz de fazer sentir a sua ascendência no plano global. Tendo no seu desenho, uma simples sigla: ESG (environmental, social and governance). Uma Europa focada nos anseios dos seus "stakeholders", transparente no funcionamento e ambientalmente responsável. Com financiamento ético, alicerçado em métricas de ESG adequadas. Que discrimine positivamente a favor de quem contribui para o objetivo delineado. De feição socialmente inclusiva. Que elimine desigualdades, entre Estados e entre cidadãos. Priorizando a descarbonização da economia e uma transição energética efetivamente justa. Com a inovação tecnológica e a capacidade industrial no seu cerne. E, finalmente, que seja solidária, internamente com os seus membros, e externamente com outros estados (e.g. África).
É demasiado ambicioso? Talvez.
Mas será muito possivelmente agora que se ficará a conhecer o âmago da Europa e dos europeus, enquanto projeto sócio-político-económico comum.
Não obstante a relevância crucial de que se revestirá esse desenho político da futura alavancagem económica da Europa, há uma responsabilidade que impende sobre todos os atores: identificar as oportunidades. Qualquer grande crise traz, sempre, excecionais oportunidades. De mudança. De crescimento.
Sem embargo disso, as declarações políticas, aos diferentes níveis, são já demonstradoras de que os esforços empresariais e financeiros, a par dos políticos, carecem de recentramento. Não descurando a gestão tática da "guerra", há que prospetar estrategicamente o futuro.
A "recuperação económica" na Europa, que será indubitavelmente uma faina herculeana, terá maiores probabilidades de sucesso se concebida à luz dos vetustos princípios de Von Clausewitz: objetivo; ofensiva; massa; economia de forças; manobra; unidade de comando; segurança; surpresa; simplicidade. Neste quadro, uma estratégia de retoma com sucesso dependerá de:
- Um objetivo de médio-longo prazo para a recuperação económica que seja claro e distinto;
- Uma ofensiva financeira, económica, monetária e orçamental disruptiva e sem hesitações;
- Ação imediata, concentrando a "massa" económico-financeira no objetivo estabelecido;
- Não ocorrerem desutilidades com objetivos menores;
- Firmeza na evitação da estagnação da economia a curto prazo (seja a que custo for);
- Liderança e coesão na UE, longe de querelas fúteis;
- Medidas de superação das vulnerabilidades europeias (e.g. na energia, tecnologia, indústria);
- Uma alavancagem económica sem precedentes, alicerçada no fator surpresa;
- Um quadro simples e de fácil apreensão para os atores políticos, económicos e financeiros.
Falamos de uma economia sustentável, soberana e para os europeus, impulsionando a iniciativa por caminhos de futuro. Uma economia de cariz multilateral, mas sem hesitações geopolíticas e capaz de fazer sentir a sua ascendência no plano global. Tendo no seu desenho, uma simples sigla: ESG (environmental, social and governance). Uma Europa focada nos anseios dos seus "stakeholders", transparente no funcionamento e ambientalmente responsável. Com financiamento ético, alicerçado em métricas de ESG adequadas. Que discrimine positivamente a favor de quem contribui para o objetivo delineado. De feição socialmente inclusiva. Que elimine desigualdades, entre Estados e entre cidadãos. Priorizando a descarbonização da economia e uma transição energética efetivamente justa. Com a inovação tecnológica e a capacidade industrial no seu cerne. E, finalmente, que seja solidária, internamente com os seus membros, e externamente com outros estados (e.g. África).
É demasiado ambicioso? Talvez.
Mas será muito possivelmente agora que se ficará a conhecer o âmago da Europa e dos europeus, enquanto projeto sócio-político-económico comum.
Mais artigos do Autor
Puzzle jurídico do hidrogénio
08.04.2021
"ESG: O Novo Paradigma Empresarial"
23.02.2021
O debate do hidrogénio
15.10.2020